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FELIPPE FERREIRA DE LIMA: A PUBLICIDADE COMO BALUARTE DE SEU TRAÇO INOVADOR

ROSÂNGELA FELIPPE, jornalista e colaboradora da Revista Mídia



Filho de Sr. Geraldo Ferreira de Lima e Dona Carmem Mancini de Lima, o publicitário Felippe Ferreira de Lima nasceu no seio de uma família tipicamente mineira também constituída pelos irmãos: Geraldo Ferreira de Lima, Carmem Mancini de Lima, Marco Antônio de Lima, Claverlinda Maria de Lima e Carmem Lima Heleno.


Quando jovem, tornou-se popularmente conhecido em Guaxupé como o ‘Felippe da Banca’, cognome que fazia alusão ao seu trabalho na banca de jornais e revistas de propriedade de seu pai. A mesma estabelecia-se na Avenida Conde Ribeiro do Valle, na Praça dos Bambolês (antigo Jardim de Baixo).


Casou-se com Maria Betânia Camargo Lima com quem teve quatro filhos: Carmem Cristina Ferreira de Lima, Gustavo Ferreira de Lima (já falecido), Carmela Camargo Ferreira de Lima e Felippe Ferreira de Lima Filho. O casal também gerou os netos: Felippe Camargo Rosas Rodrigues, Gustavo Camargo Rosa Rodrigues, Carmela Camargo Lima Rosas, Kauan Lima e Silva, Tainá Lima e Silva, Guilherme Lima e Souza e Pedro Carvalho Lima.


Sua destreza em se comunicar, fez com que Felippe estimulasse um movimento maior na cidade em tempos de profunda pacatez. Foi por meio de sua iniciativa que Guaxupé teve a oportunidade de apresentar um show do maior ídolo da juventude nos anos 60, o cantor e compositor Roberto Carlos, entre outras atrações que agitaram também outras cidades da região.



Dotado de uma memória magnífica, por meio desta entrevista Felippe Ferreira de Lima expõe fatos pitorescos os quais as novas gerações não podem privar-se do direito de conhecer. Mais do que uma viagem rumo ao passado, Felippe nos leva a uma viagem através dos rastros das nossas origene, nossa história e, para muitos, da enorme saudade de tempos que jamais voltarão a acontecer.

Quando e como você assumiu a responsabilidade de ajudar seu pai a cuidar da banca de jornais e revistas?

Desde criança, já ajudava meu pai na banca de revistas apanhando os jornais na chegada do trem na estação da Mogiana, retirando revistas na agência dos correios que ficava na Av. Conde Ribeiro do Valle e vendendo revistas e jornais de porta em porta nas residências. Quando completei13 anos, meu pai passou a banca para o meu tio Eliseu Sátiro de Lima, que era funcionário da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e mudamos para São Caetano do Sul onde meu pai montou uma banca dentro da estação ferroviária de Osasco. Enquanto eu trabalhava na banca, meu pai vendia jornais e revistas nos trens da extinta Estrada de Ferro Sorocabana, que fazia o percurso da região de Osasco até a estação Júlio Prestes, hoje Sala São Paulo de Concertos em São Paulo. No dia 31 de dezembro de 1963, já com 17 anos, voltando a Guaxupé para as festas de fim de ano, recebi uma proposta do meu tio Eliseu e assumi a banca da família já como administrador.


Na época, sua permanência na banca permitiu-lhe conviver com os maiores veículos impressos do país. Essa experiência exerceu alguma influência em sua escolha pela Comunicação? Quais os jornais e revistas que mais atraíam o seu interesse?

O fascínio pela comunicação começou ai, a convivência com os veículos: Folha de São Paulo, Gazeta Esportiva, revistas Manchete e O Cruzeiro. Todos exerceram influência muito grande, pois além do conhecimento de tudo o que acontecia no Brasil e no mundo, acompanhava também a trajetória dos donos da comunicação no Brasil como Victor Civita, filho de italianos que nasceu em Nova York, chegou ao Brasil em 1950, mandou imprimir 80.000 exemplares da revista Pato Donald em uma gráfica na Avenida Marginal em São Paulo, começando aí a história da Editora Abril. Na época, acompanhei também Roberto Marinho do jornal O Globo, Assis Chateaubriand dos Diários Associados, Octávio Frias de Oliveira do Grupo Folhas, Adolpho Bloch da revista Manchete e até o jornalista Carlos Lacerda que chegou a governar o estado da Guanabara (Rio de Janeiro), dono da revista Maquis, que fazia um jornalismo de oposição ao governo. Dos jornais, o que gostava mais era A Gazeta Esportiva, do qual me tornei correspondente nas décadas de 1970 e 1980, enviando reportagens e fotos dos acontecimentos esportivos de nossa cidade. Das revistas, Manchete com reportagens de Arnaldo Niskier e O Cruzeiro com o repórter David Nasser, essas eram campeãs de vendas com reportagens sensacionais de Carnaval, Miss Brasil, Copa do Mundo e crimes que provocavam comoção nacional, como o assassinato de Aída Cury, morta por dois jovens da classe média alta do Rio de Janeiro, Ronaldo Guilherme e Cássio Murilo. A repercussão desse crime foi tão grande que os óculos ray-ban que Ronaldo usava virou moda como os “Óculos Ronaldinho”, e Cássio Murilo era o nome dado a algumas crianças do sexo masculino que nasciam naquela época por todo o Brasil, registrando-se alguns casos em Guaxupé. Outro caso comovente foi o assassinato de Ângela Diniz, morta pelo seu companheiro Doca Street, que virou celebridade na época. Foragido da justiça e por alguns milhões de cruzeiros, concedeu uma entrevista para a Revista Manchete num local considerado como esconderijo e, após a publicação, descobri pelas fotos e pelos azulejos de fundo, que o tal esconderijo era nada mais, nada menos do que a sala de espera do antigo aeroporto de Guaxupé que estava desativado. Não perdi tempo, convidei o fotógrafo Nelson Damito e seu irmão Jú Damito, que tinha uma aparência pequena com o Doca Street. Montado o circo, o Nelson fez as fotos semelhantes às publicadas pela Revista Manchete e que foram publicadas pelos principais veículos de comunicação do país. Com essas notícias bombásticas a gente conseguia vender em média 1.000 exemplares dessas revistas por semana em Guaxupé, numa época em que a população da cidade era de 18.906 habitantes apenas. Com todos esses acontecimentos mirabolantes acontecendo a minha volta, não tinha como não me apaixonar pela comunicação.



Desde muito jovem, você já era notavelmente desenvolto na arte de movimentar Guaxupé organizando shows com artistas em destaque no cenário musical. Qual foi o ponto de partida desta sua função?

No século passado, o mundo sofreu uma transformação muito grande em todos os setores, principalmente na década de 1950, período que foi considerado os “Anos Dourados”. Nesse período, os jovens e as crianças não tinham um movimento musical para se identificar. Na minha infância, as crianças cantavam aquilo que ouviam no rádio, por exemplo, letras falando de ‘cabaré’; ‘num quarto sedutor só o amor vai encontrar’; ‘tudo a meia luz’; ‘a meia luz do amor’; ‘um gato de porcelana mudo assiste o nosso amor’. Eram músicas com expressões como essas que a gente ouvia e cantava sem entender o significado das letras e as oferecíamos aos amigos e parentes quando aniversariavam na Rádio Clube e durante as quermesses de Guaxupé. A partir daí, a mudança radical com a chegada de Elvis Presley, o Rei do Rock nos Estados Unidos, Os Beatles e Roling Stones, na Inglaterra, e o movimento da Jovem Guarda no Brasil. Foi esse o ponto de partida quando eu disse: “esse movimento musical está mudando o mundo”, e entrei com tudo para movimentar Guaxupé com artistas locais e também artistas de destaque no cenário nacional.


O show de Roberto Carlos em Guaxupé, ocorrido no início da carreira do cantor (anos 60), foi uma iniciativa sua. O evento causou grande tumulto gerado por alguns jovens da cidade. Diziam as pessoas que foi consequência do ciúme da rapaziada, pois, as jovens demonstraram um caloroso encantamento pelo charme do então ‘Rei da Juventude’. Essa versão procede?

O Show do Roberto Carlos em Guaxupé teve proporções inimagináveis, a gente não tinha ideia do tamanho da representatividade e responsabilidade que estava em nossas mãos, pois aquele artista que estava ali, não era apenas um jovem cabeludo de 24 anos tocador de guitarra. Era o artista que, até hoje, 56 anos passados desse evento, continua em plena atividade de sucesso com seus shows e está no topo da lista dos melhores cantores e compositores do Brasil.

Assim, não deu outra! As jovens demonstraram um caloroso encantamento pelo charme do Rei, com as garotas correndo atrás do seu carrão, um Impala azul claro 64, que quando parou para abastecer com gasolina azul no Posto Esso do Sr. Antônio Gabriel, o tumulto foi generalizado em consequência do ciúme da rapaziada. Mas Graças a Deus, sem consequências mais graves.



Porém, foi a presença de Erasmo Carlos em Guaxupé, pouco tempo após a apresentação de Roberto Carlos, que lhe causou alguns dissabores devido ao fato de um juiz, em Mococa, não ter permitido que o cantor exibisse seu show naquela cidade. O que ocorreu e quais os problemas que você teve que enfrentar com este episódio?

O movimento da Jovem Guarda não foi só de jovens, foi também de crianças e adultos de todas as idades. No Show do Roberto Carlos em Guaxupé e Mococa, 20% desse público era formado por crianças, e em Mococa o show que teria o seu início às 10 horas da noite, começou à 01 hora da manhã. Por esse problema, quanto à realização do show do Erasmo Carlos em Mococa, o Juiz da Infância e da Juventude daquela cidade determinou o horário para o início às 09 horas da noite, com 15 minutos de tolerância em caso de atraso. Porém, chegamos com maior tempo atrasados e o juiz recolheu o dinheiro da bilheteria impedindo a apresentação do cantor. Nas negociações, na tentativa da liberação do show, indaguei a um assessor do juiz o porquê daquela atitude tão radical, sendo que, ali havia além de crianças e jovens, pessoas de todas as idades que queriam assistir ao show. Qual não foi minha surpresa com a resposta do tal assessor: “o Juiz não gosta de cabeludo”, e o show terminou ali, frustrando toda aquela expectativa e empolgação que se tinha criado para aquele evento.


Há outros casos pitorescos intercalados com os que ocorreram com Erasmo e Roberto Carlos que seriam interessantes ressaltar.

Sim, com o tumulto de Mococa, ao invés de retornar para São Paulo, Erasmo resolveu vir para Guaxupé com a gente. Juntando a nossa com a turma dele, formou-se um grupo de mais ou menos 30 pessoas. Chegando à cidade, fomos para uma pista de boliche montada na Av. Conde Ribeiro do Valle, onde é hoje a Loja de Móveis da Galeria dos Presentes. Era uma sexta-feira e acontecia uma quermesse na praça da catedral. Foi quando algumas senhoras da organização da festa, sabendo da presença do Erasmo naquele local, foram até lá solicitando a presença dele na quermesse para cantar algumas músicas. A resposta que elas tiveram foi: “Tá bom, a gente vai analisar a possibilidade, se der certo a gente vai sim”. Porém, com aquela confusão toda, não deu para ele realizar a apresentação. O mais curioso dessa história toda, é que o Zé da Santa, um cantor da turma dos artistas de Guaxupé e figura folclórica na cidade, passou a noite toda percorrendo a distância entre a Catedral e o Boliche levando e trazendo as notícias como essa: “Olha, enquanto o Erasmo Carlos não retorna de Mococa, continua com vocês o Nenê da Frozina”. No final, o Zé da Santa se desabafou: “Se o Erasmo não for cantar lá, o Nenê da Frozina vai morrer de tanto cantar, porque ele está cantando desde às 8 horas da noite de ontem e já são 4 horas da manhã”. O Erasmo não foi e, passados 56 anos, o Nenê da Frozina não morreu de cantar naquela noite e continua cantando nas quermesses de Guaxupé até hoje. Outro fato marcante foi quando fomos negociar o pagamento do cachê com o “Tremendão” e tivemos como resposta: “Vocês não tiveram culpa de nada pelo impedimento do show. Portanto, não me devem nada e ainda vou fazer um outro show de graça para vocês a fim de amenizar o prejuízo”. O coração e a bondade desse gigante eram maiores do que ele.


Essa história de Erasmo Carlos com relação a Mococa continuou durante uma apresentação dele no programa Jovem Guarda. Como foi?

Antes do retorno a São Paulo, Erasmo me perguntou qual foi o motivo daquela confusão toda e eu lhe expliquei que o show não foi realizado porque o Juiz da Infância e da Juventude de Mococa não gostava de cabeludo. Ele disse: “pode deixar”. Em seguida, pegou um guardanapo de papel e anotou o nome do juiz. No domingo, durante a apresentação do programa ‘Jovem Guarda’, ele falou: “Fui fazer um show na cidade de Mococa e o Juiz da Infância e da Juventude daquela cidade (mencionou o nome do juiz) não deixou porque ele não gosta de cabeludo. Ele não teve infância, ele já nasceu grande daquele jeito”. Infelizmente, esse episódio nos causou um processo judicial.

Mas há outro caso interessante que aconteceu no dia da apresentação do Roberto Carlos e vale a pena contar. Terminado o show de Guaxupé, fomos para Mococa e já estávamos atrasados. É que tinha caído a ponte do Bairro Carloni e tínhamos que passar por Igaraí. Na época, só havia estradas de terra, exceto o trecho de Casa Branca a Mococa que já estava asfaltado. Assim, Roberto Carlos exigiu-nos que fôssemos por Casa Branca, ou seja, pelo trajeto asfaltado. Quando chegou em São José do Rio Pardo, o Roberto pediu uma Coca Cola. Paramos no bar que funcionava como rodoviária na época e o mesmo estava lotado pelo movimento dos passageiros de ônibus. Meu irmão, Marco Lima, que estava com a gente desceu, pegou a Coca Cola entregando-a ao Roberto. Rodamos mais 5 minutos e meu irmão desesperado começou a gritar: ”Volta, volta, volta”. Sem saber o que estava acontecendo, voltamos ao tal bar, meu irmão desceu e perguntou ao garçom se ele tinha visto uma caixa de papelão. O garçom respondeu: “Sim, você a esqueceu aqui”. Em seguida, apanhou a caixa em baixo do balcão contendo 4 milhões de cruzeiros, que era a renda do show em Guaxupé, devolvendo-a ao meu irmão.



Sua memória é privilegiada. Você se recorda de fatos ocorridos no passado de Guaxupé em detalhes. Já pensou em escrever um livro narrando acontecimentos e descrevendo personagens interessantes como forma de registro histórico da cidade?

Sim, já pensei nisso. Nessa trajetória de vida, presenciei acontecimentos que merecem registros históricos em todos os segmentos da sociedade como: política, educação, esporte e outros. Na política participei de um movimento jovem em 1986, ano em que o país recém saído da ditadura exigia uma transformação. Juntos com Nelson Damito, Benedito Resende, Manoel Augusto Palhares Ribeiro (Thiaba), Luiz Antônio dos Reis (Peninha), Newton Mesquita e outros, fundamos o PDT de Guaxupé para uma participação ampla na política da cidade. O que queríamos era uma independência jovem na política, pois a maioria desse pessoal para participar da política tinha que servir a um ou outro, dois grupos políticos tradicionais que se alternavam no poder, que não davam oportunidade de liderança a esses jovens para uma participação mais atuante nas decisões do grupo. Nesse mesmo ano de 1986, lançamos candidatos: eu como Deputado Estadual e o Nelson Damito como Deputado Federal. Foi uma grande experiência em minha vida, pois o PDT e mais cinco partidos apoiavam a candidatura de Itamar Franco ao governo de Minas e, de repente, no lançamento da campanha do Itamar, lá estava eu na Câmara Municipal de Barbacena com um microfone na mão, olhando para cima na galeria de fotos e via as famílias Andradas e Bias Fortes que eu conhecia dos livros de história do tempo do Grupo Escolar Coronel Antônio Costa Monteiro. Olhava para o lado e via: Aureliano Chaves, Aécio Cunha, pai do Aécio Neves, Hélio Costa, Nelson Gonçalves e o próprio Itamar Franco, pessoas que eu conhecia através da mídia, rádio, TV e jornais, que estavam ali para me ouvir e eu tremendo, achando que a voz não ia sair. Mas a voz saiu e eu não parei de falar até o final da campanha.

Na educação, acompanhei o movimento cultural que aconteceu em Guaxupé na década de 1960, quando a cidade contava com, além do Seminário Diocesano São José, apenas escolas com formação até o ensino médio, não oferecendo condição para um curso superior na cidade. Foi aí que um grupo de jovens intelectuais, escritores em início de carreira que promoviam encontros e reuniões para tratar de assuntos ligados à cultura, teve a ideia de criar uma faculdade de letras. Alguns componentes desse grupo eram nada mais, nada menos que: Francisca Vilas Boas, Marco Antônio de Oliveira, Sebastião Rezende e Elias José. Esse grupo pioneiro de Guaxupé foi o fundador do gênero Miniconto no Brasil, e com o apoio da Mitra Diocesana de Guaxupé e o Bispo Dom José de Almeida Batista Pereira, ajudou afundar a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Guaxupé (Fafig), hoje, Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé (Unifeg). Um fato interessante dessa história, a Fafig teve o início das suas atividades no ano de 1964 funcionando no período noturno no prédio da Escola Municipal Delfim Moreira, e todos desse grupo, eram alunos e professores ao mesmo tempo, conseguindo assim implantar um curso superior na cidade e a tão sonhada graduação juntamente com seus alunos.

No esporte, tive participação na fundação do Esporte Clube Independente com um fato também interessante. Com uma dissidência no time de futebol do Guaxupé Country Club (Piscina), o professor Alcides Baldini (Nenê Baldini) montou um outro time que usava as dependências do Estádio Municipal para jogos e treinos. Eu, como integrante desse novo time, durante um jogo tive uma discussão com o professor. Passado uns dias, fui desafiado por ele no antigo Supermercado Sabbag. Ele me disse: “Vocês só gostam de criticar e tumultuar, ajudar ninguém ajuda. Se a gente não filiar o nosso clube na Federação Mineira de Futebol, vamos perder o direito do uso do Estádio Municipal”. A minha resposta para o professor Nenê Baldine: “Pode contar comigo, vou ajudar”. No próximo domingo, o ano era 1974, o professor perdeu a vida num acidente de carro. Não tive outra alternativa e convidei outros integrantes do clube. Formamos a diretoria e filiamos o Esporte Clube Independente na Federação Mineira de Futebol no dia 02 de janeiro de 1975. Ainda no ano de 1974, juntamente com meu tio Leonardo Heleno que morava em Santo André, realizamos o primeiro jogo entre Independente de Guaxupé e Aramaçã de Santo André, que teve entre, outras atrações, Airton (ex jogador do São Paulo) e Zaluar, o goleiro que tomou o primeiro gol do Pelé. Passados 48 anos, essa tradição continua. Com a paralização das atividades do Independente, o Aramaçã jogou algum tempo com o Clube dos Caminhoneiros, depois com o Guaxupé Country Club (Piscina) e, atualmente, com o time do Pangaré, sem nunca interromper essa tradição, todo ano, um jogo em Guaxupé e outro em Santo André.

Apaixonado pela comunicação, não poderia deixar de gostar de cinema, também do Cine São Carlos e dos namoricos no escurinho chupando bala de anis. Sonhava em fazer um filme, se possível no “desfiladeiro” que a gente via muito nos filmes de faroeste americano, locais tipo uma garganta, uma goela, onde aconteciam as cenas de ação. Mas o sonho naquele momento era impossível por vários motivos, entre outros o alto custo do equipamento profissional.


Mas apesar das dificuldades em realizar projetos de cinema, você levou o sonho adiante. Como foi essa conquista?

No início da década de 1980, com o surgimento das câmeras modernas, com custos compatíveis com a nossa realidade, juntamente com meu primo Ivan Mancini e o amigo Carlos Conti, começamos a produzir reportagens de tudo o que acontecia na cidade, carnaval, expoagro, futebol e filmes curta metragem.

Na produção do filme “O Sequestro” tínhamos que gravar uma cena com o personagem desembarcando do avião no aeroporto de Viracopos, em Campinas. Chegando lá, fomos informados pela funcionária do aeroporto que para o consentimento da gravação das cenas seriam necessários alguns trâmites burocráticos como: pedido de autorização por escrito, roteiro, nota fiscal dos equipamentos, pagamento de taxa de 500 dólares, nome e documentos de ator, diretor etc. Exigências impossíveis naquele momento. Foi quando a palavra mágica ‘Guaxupé’ entrou em ação: “De onde vocês são?”, indagou a funcionária do aeroporto. Respondemos que éramos de Guaxupé. “Eu passo o carnaval todos os anos lá. Fico hospedada na casa do Valdir Marino, tenho muitos amigos lá, aguardem um minuto”, disse-nos a moça que em seguida foi chamar seu chefe, o Comandante da Infraero. O Comandante chegou querendo saber todo o roteiro do filme, que tinha no final um acidente aéreo com a morte do ator principal. Foi quando ele indagou: “E como será a cena do acidente?”. Eu lhe respondi: “Não temos estrutura para fazer essa cena e vamos fazer como notícia, uma nota dada pelo apresentador de um telejornal’. A surpresa maior veio quando o Comandante disse que iria realizar um treinamento de acidente aéreo simulado, autorizando as filmagens da cena do desembarque naquele dia, sem os trâmites burocráticos e a participação da nossa equipe no treinamento do acidente. No dia do treinamento, numa área próxima ao aeroporto, encontramos um protótipo de um Boing 737 feito de plástico e toda a estrutura do aeroporto à nossa disposição; Eram peças de plástico para simular ferimentos, bombeiros, médicos, enfermeiros, ambulâncias e tudo mais. Às 7 horas da noite, com o toque da sirene, teve início o treinamento e a nossa filmagem, o protótipo do Boing foi incendiado e toda a estrutura foi mobilizada com funcionários do aeroporto e voluntários interpretando passageiros com ferimentos, atendimentos no local, outros encaminhados para o hospital e o protagonista do nosso filme recebendo ali todo atendimento necessário, sendo removido para o hospital, mas como o roteiro lhe reservava, não teve um final feliz. Todo esse evento teve cobertura real pela imprensa de Campinas, rádios, jornais, TVs Globo, Manchete e outras. Assim conseguimos realizar a cena mais fantástica do nosso filme, com custo zero de produção. São muitas histórias como essa com motivos para escrever um livro, sim!



A Publicidade é o caminho que você vem trilhando com muito dinamismo e sucesso. Como você mesmo já se expressou: “Ser publicitário é gratificante. Uma luta constante sempre em busca de novos desafios”. Quais os confrontos mais intensos que o surpreenderam nesta área profissional e quais as maiores conquistas?

É gratificante trabalhar com publicidade, área que oferece um leque enorme de oportunidades incomensuráveis, que não sendo uma área de exatas, não permite o deslumbramento de resultados antecipados, mas que, quando conquistados, nos levam a um estado de euforia.

No ano de 1997, fizemos um projeto de mídia para Fafig, Faceg e Colégio Dom Inácio, quando fomos confrontados pelo diretor Padre Ezaú com a pergunta: “Com esse investimento proposto, qual o percentual em número de alunos poderemos esperar para os próximos três anos?”. Ele pedia um número que eu não poderia dar e chutei 20%. Passados os três anos de campanha, o número do resultado foi muito maior que o chute, foi um período de expansão da instituição com a construção de novos prédios, até chegar a conquista do tão sonhado Centro Universitário. Não foi a campanha proposta o motivo dessa conquista, mas a participação nesse projeto de sucesso foi um aprendizado gratificante.

As conquistas acontecem quando você procura fazer o diferente, quando foge da mesmice, quando procura a inovação para surpreender. No nosso caso, quando da inauguração da nossa agência no ano de 1987, simultaneamente acontecia a chegada do sinal regional da TV Globo na nossa região, abrindo a oportunidade para as empresas locais anunciarem nesse tipo de veículo, até então impossível, dado ao alto custo das inserções comerciais que eram baseados em tabelas estadual e nacional. Com a tabela de preços regional, com custos compatíveis com a nossa realidade, começamos a produzir peças que raramente se via na TV como Informe Publicitário, que era inserido naquele intervalo de 2 minutos do Jornal Nacional. Era a publicidade em formato de jornalismo e programas de TV, os quais eram veiculados em outras emissoras que também se instalavam na região como: Prosa e Talento com Sulino Romeiro (TV Record Minas), Frequência X com Gil e Guaxupé (TV Alterosa), Destaque na TV com Pica Pau (Rede Band Minas) e programas especiais como “Cooxupé 80 Anos” veiculado no Canal Rural, “Centro Universitário Unifeg” veiculado na Rede Band Minas e outros.

Outro formato que adotamos foi o de produzir peças com artistas e radialistas da cidade ou com ligações com a cidade como: Sulino Romeiro, Pica Pau, Marcos Frota, Milton Neves, entre outros. Esses profissionais trabalhavam com cachês simbólicos se comparados aos cobrados no mercado nacional, e alguns da cidade nem os cobravam. Esse modelo foi um sucesso na mídia regional, alcançando o objetivo dos clientes com o aumento das vendas, que consequentemente exigia mais mão de obra para o aumento da produção, gerando mais empregos no mercado local.

Outra estratégia de sucesso foi trabalhar com mídia nacional. Lançamos em 2009 a primeira ação de merchandising da TV Aparecida para o cliente Zelão Calçados, que com um projeto de logística específico passou a atender a todo o território nacional. O Sucesso foi tão grande que o José Aparecido de Oliveira (o Zelão), proprietário da empresa, foi convidado a participar do debate presidencial de 2010 promovido pela Rede Católica de Comunicação. Hoje, a TV Aparecida trabalha com ações de merchandising em toda a sua linha de programação, e a empresa que pretender trabalhar com esse tipo de ação em um dos programas de sua grade como, “Terra da Padroeira”, com três horas de duração, terá que entrar numa fila, pois não há vaga. Lançamos também campanhas de veiculação nacional no Canal Rural para os clientes, Vime Veículos, Cooxupé e Madeireira Nehemy.



Ainda há quem defina a publicidade com o reles estereótipo de que se trata de um meio de manipular escolhas e decisões. Qual é o verdadeiro conceito deste campo profissional?

Basicamente, a publicidade é a difusão de uma ideia, que através de algum meio de comunicação, busca influenciar alguém a comprar algum produto ou serviço, criando nesse alguém um sentimento de desejo pelo o que é anunciado. Sendo assim, esse alguém é manipulado por alguns fatores, como por impulso, pelo preço, pelo ator ou atriz que apresentam o produto, mas tudo isso tem que ter um complemento essencial, a qualidade do produto ou serviço.


Haveria, nos dias de hoje, a possibilidade de que a humanidade caminhasse sem a dinâmica da Estratégia de Marketing?

Impossível! Nos dias atuais, qualquer tipo de negócio ou empresa tem que ter Estratégia de Marketing. Essa é a melhor forma de chamar a atenção dos clientes. Elas permitem que o empreendedor pense em formas diferenciadas de alavancar o seu negócio. Bem definidas, insere a empresa no mercado, permitindo a seguir o rumo certo para garantir bons resultados. Outro detalhe importantíssimo é o pós-venda, que deve ser tratado com a mesma eficiência da Estratégia de Marketing.


Como Diretor Comercial da Marko Publicidade, em quais aspectos você tem podido colaborar mais ativamente com o desenvolvimento da agência?

A Marko Publicidade foi fundada em 1987. Esses 35 anos de jornada foram de um aprendizado muito grande e constante. Com as mudanças radicais na mídia em todo o mundo, o mercado seguia mais exigente em qualidade, mas pagando menos por essa qualidade. Isso dificultava a vida das agências, incluindo a Marko Publicidade. Nesse período, com a chegada da mídia digital e da internet, foi possível baixar os custos e, consequentemente, baixar também o faturamento das agências, que com a queda da receita, não conseguiam mais manter o quadro de funcionários com a entrega dos serviços com qualidade. Resultado, a maioria reduziu o número de funcionários e muitas fecharam as portas. Com a minha experiência de mercado e as ideias dos colaboradores, meus filhos Felippe Filho e Carmela, tenho colaborado com a criação de novos produtos para a agência como o projeto de risco. Isso ocorre quando montamos um projeto sem o cliente pedir ou saber e, quando apresentado, alguns negócios são efetivados. Iniciativas como essa nos permitiram atravessar tais turbulências ocorridas nesses 35 anos, inclusive a pandemia que está terminando, e a Marko Publicidade continua graças à parceria com os nossos clientes.


Qual análise você faz do panorama publicitário atual de Guaxupé? Há tópicos que devem ser otimizados para a melhoria da propaganda local?

Eu acho que o panorama publicitário atual de Guaxupé está engessado, porque a essência da publicidade é a criação, é o talento, e isso eu não tenho visto mais nas ações publicitárias pela cidade. Antigamente, quando nem se sonhava que poderia existir um curso de publicidade, a gente via ações como a do personagem “Santana” com suas pernas de pau e megafone fazendo os reclames das Casas Pernambucanas pelas ruas; o NabiZayat com o seu Chevrolet ou Ford 1936 com duas cornetas de auto falantes divulgando as empresas, produtos e eventos, sem fita gravada, tudo no gogó, ao vivo e a cores; os funcionários das Pernambucanas aos finais de semana, sem direito a horas extras, com uma lata de tinta escrevendo mensagens publicitárias nas porteiras das fazendas; o Lotinho (Antônio Lipiane Prósperi) criando cartazes para o Cine São Carlos com desenhos que beiravam a perfeição dos atores e atrizes que faziam sucesso na época, como Rock Hudson, Greta Garbo, Sophia Loren, James Dean, Marlon Brando e outros; o Bilo com sua promoção anual “Loucuras de Agosto” das Casas das Linhas, sempre inovando, associando a campanha aos assuntos mais badalados do momento.

É claro que os tempos mudaram. O consumidor de hoje é mais exigente, a forma de abordagem tem que acompanhar a modernidade, mas com toda essa evolução, sem a vocação, o talento e a gana da criação, tudo vai por água abaixo. E isso, a meu ver, é o que falta para a melhoria da propaganda local.



Há algum comunicado para a nova geração de publicitários guaxupeanos?

O recado que deixo para a nova geração de publicitários guaxupeanos, é que acreditem na capacidade de cada um. Todos nós temos um potencial inimaginável de criação. Então, se você gosta, tem vocação, acredite em si mesmo, qualquer tema tem a potencialidade de se transformar em uma grande conquista. Numa palestra, Washington Olivetto, um dos maiores publicitários do Brasil disse: “Eu não me conformo quando vejo uma ideia espetacular que não tenha sido criada por mim”. Quando da inauguração da TV Alterosa de Varginha (SBT), o gerente comercial era Wellington Espanha, um jovem publicitário vindo de Belo Horizonte, que numa das primeiras reuniões com as agências da região, disse: “Foram investidos muitos milhões de cruzeiros para montar essa emissora, toda essa estrutura está pronta para trabalhar com vocês. Criem, inventem, tragam os projetos que vamos executar juntos”. Três meses depois, lançamos o programa “Frequência X” com Gil e Guaxupé que ficou 5 anos no ar.


Fale um pouco sobre o Felippe com sua vida em família.

Família é a base de tudo, é a nossa estrutura, tudo o que fazemos é em função da família. Betânia e eu somos casados há 52 anos e temos 4 filhos e 7 netos. O que a gente mais queria era ficar juntos o tempo todo, com lembranças de quando os filhos pequenos, da época do frio em que dormiam todos com a gente na mesma cama. Mas o tempo passa, eles crescem e tem que tomar o rumo de cada um. A partir dos anos 2000, três filhos foram morar no Acre: Gustavo, Carmela e Felippe Filho. Permaneceu morando em Guaxupé somente a filha mais velha, Carminha. A saudade era muito grande e ficou maior ainda com a morte do Gustavo, em 2003, num acidente de carro quando foi fazer uma reportagem na divisa com a Bolívia. A Carmela e o Felippe Filho retornaram do Acre e agora temos quase que toda a prole ao nosso lado, menos o neto mais velho Kauan, já com 30 anos, que mora em Belém do Pará. A saudade que sentimos dele aperta, mas já estamos arrumando as malas para irmos ao Pará. A vida em família é maravilhosa. A Carminha, a Carmela, o Felippe Filho e o Felippe Neto trabalham comigo na agência, e a prole, juntamente com genros e nora, continuam juntos com a gente para o que der e vier.


O Felippe Ferreira de Lima sente saudade do ‘Felippe da Banca”?

Muita saudade, período maravilhoso, anos dourados, época em que tudo acontecia de modo diferente em Guaxupé e no mundo. A Banca da Avenida era o ‘point’ da cidade, o centro das atenções, todo mundo passava por ali em volta da banca, as meninas do Colégio Imaculada Conceição com o uniforme de gala, os meninos e as meninas da Academia de Comércio São José com o uniforme clássico, moças e rapazes que davam volta no Jardim de Cima e no Jardim de Baixo. E quantos namoros começaram ali na banca, e alguns resultando em casamentos. Política, cultura, esporte e outros assuntos, eram comentados com base em um pequeno rádio que havia ali na banca e ficava ligado o dia todo, com notícias como: Revolução de 1964, Suicídio do presidente Getúlio Vargas, Ato Institucional nº 5 (AI5) e outros. Algumas decisões tomadas ali na banca repercutem até os dias de hoje, como foi a decisão da realização do show do Roberto Carlos. O Arlindo Jornaleiro, uma figura folclórica na cidade que trabalhava como vendedor de jornais e revistas nos trens que faziam a linha Guaxupé/Campinas e vice versa. Paralelo a isso, o Arlindo era o nosso Pombo Correio e Sedex daquela época, pois tudo o que você precisava e não encontrava em Guaxupé, ele trazia para você no outro dia, uma rapidez fantástica se comparado à logística dos transportes naquela época. O Arlindo alcançou uma graça com uma promessa de não cobrar taxa de transporte para produtos ligados à saúde, e tudo o que você precisava e que não encontrava em Guaxupé como, remédios, exames laboratoriais, equipamentos cirúrgicos e outros, ele trazia e não cobrava nada. Além desse trabalho social, ele trazia também notícias do que ele via por aí afora. Era uma sexta-feira de fevereiro de 1966, uma chuva muito forte impedia que alguém se aproximasse da banca e em toda área em volta, aparecendo ali o Arlindo que tinha acabado de chegar de Campinas e me disse: “O Roberto Carlos foi fazer um show em São José do Rio Pardo, mas tinha tanta gente, que se fosse aqui a fila dava volta no quarteirão atravessando o Hotel São Paulo Minas (local onde é hoje o Edifício Dona Suzana Barbosa). O Arlindo foi embora, a chuva continuou, não chegou ninguém para conversar comigo. Então comecei a contar o dinheiro que iria arrecadar com aquela fila imaginária. No sábado, às 11 horas da noite, peguei o trem da Mogiana, amanheci em São Paulo e, às 10 da manhã, estava de plantão no Lord Hotel onde o Roberto se hospedava. Ao meio dia saí junto com o Roberto Carlos no seu Impala Azul no percurso da Avenida São João até o Teatro Record, na Rua da Consolação, onde às 4 da tarde ele apresentou o Show da Jovem Guarda. Sim, por essas e muitas outras histórias sinto saudades do Felippe da Banca.

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