Vários são os transtornos alimentares, mas hoje falaremos apenas do Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica TCAP ou Binge Eating Disorder como intitulam os americanos.
Todos nós temos a idéia de que precisamos comer para viver, tendo prazer, evidentemente, porém muitos de nós comemos como se fosse a última vez que entraríamos em contato com aquele tipo de alimento. Há um exagero na ingestão das iguarias, uma ansiedade em devorar grandes quantidades ou a sensação de não ficar satisfeito mesmo com grandes porções.
O TCAP é caracterizado pela ingestão de grande quantidade de alimentos acompanhada da sensação da perda de controle sobre o que se come ou a quantidade ingerida. Para se caracterizar o diagnóstico, esses episódios devem ocorrer pelo menos dois dias da semana nos últimos seis meses, associados a alguma característica de perda de controle e não acompanhados de comportamentos compensatórios extremos para a perda de peso como vômito e laxantes (pois neste caso se classifica como bulimia).
Além da sensação da perda de controle e da quantidade de alimento consumido, a compulsão alimentar, frequentemente, vem acompanhada de sentimento de angústia subjetiva, incluindo vergonha, nojo ou culpa. As pessoas com TCAP possuem autoestima mais baixa e preocupam-se mais com o peso e a forma física do que outros sujeitos que também possuem sobrepeso, mas não têm o transtorno.
Um comedor compulsivo abrange no mínimo dois elementos: o subjetivo (a sensação da perda de controle) e o objetivo (a quantidade do consumo alimentar).
A maioria tem uma longa história de repetidas tentativas de fazer dietas e sente-se desesperada acerca de sua dificuldade de controle da ingestão de alimentos. Alguns continuam tentando restringir o consumo de calorias, enquanto outros abandonam quaisquer esforços de fazer dieta, em razão de fracassos repetidos.
O estresse é um fator que pode levar ao aumento das compulsões alimentares. Durante situações estressantes, o cortisol é liberado estimulando a ingestão de alimentos e o aumento de peso.
Comer para aplacar momentaneamente a angústia é algo que já se tornou comum em algumas pessoas. Alguns têm uma melhor administração interna das emoções, porém outros sentem uma necessidade contínua de prazer. O prazer é muito importante em nossa vida, devemos e podemos cultivá-lo, o problema se inicia quando vamos além do prazer, numa busca incessante de perpetuar aquela sensação prazerosa de não dizer “não” aos impulsos. A comida é uma fonte rápida e não muito difícil para a maioria, desta busca pelo além do prazer.
Muitas vezes a comida gostosa, os doces, chocolates ou salgadinhos e afins, poderão ser encarados como recompensa para qualquer sensação ruim. O fato de algumas vezes a pessoa não conseguir ou acreditar que não consegue lidar com situações difíceis, aparentemente sem solução ou apenas uma barreira que pode trazer desconforto, será suficiente para desencadear uma cascata de compulsões.
O comedor compulsivo normalmente sente uma perda de controle durante o episódio, mesmo que pense e perceba o que está fazendo, não consegue interromper o ciclo, o que posteriormente traz decepção e culpa, gerando ainda mais necessidade de sentir prazer, pois na culpa se percebe ainda mais incapaz e assim como uma bola de neve, busca mais prazer compensatório.
A comida é a primeira expressão de amor que temos nas nossas vidas, refiro-me à amamentação e juntamente com ela uma atenção especial: alimento mais afeto mais segurança. Tudo somado traz a sensação de prazer, aceitação e conforto. Em momentos de dificuldade, a busca por soluções prazerosas imediatistas poderá ser através da comida. No caso da compulsão, evidentemente o fato de ingerir grandes quantidades em curto espaço de tempo, trará apenas o prazer, mas não a solução para o problema. Pode até sentir um alívio momentâneo, mas na verdade o enfrentamento da dificuldade não aconteceu.
Para o bebê o que tem bom sabor dá prazer à boca. Depois de deglutido, sacia a fome e aplaca as sensações de desconforto. O bebê gosta desta sensação. Ela minimiza os efeitos da angústia. Em verdade, na vida do adulto o conteúdo alimentar esconde a ambivalência de um efeito reparador e destruidor, ou seja, gratificante e persecutório. No compulsivo se misturam a angústia, a culpabilidade e a autoagressividade. Estas pessoas apresentam muitas vezes a necessidade de estarem ligadas intensamente a alguém, sentindo-se amadas, desejadas, incluídas, aceitas, respeitadas e principalmente aceitas por elas mesmas, não de forma normal como ocorre com qualquer pessoa, mas de forma especial. A comida entra no lugar do vazio. Vazio de mim mesma, uma falta interior a ser preenchida. Uma compensação pelo buraco que bem se sabe, nenhum alimento conseguirá tapar.
A pergunta que não quer calar: o que você quer? Quando foi que deixou de acreditar em você mesmo, se é que acreditou? Lembre-se que a comida para você não é apenas um meio de se alimentar e sentir prazer, mas ao contrário, é algo do qual você se tornou dependente e precisa comer para “curar” momentaneamente esta angústia. Você é muito mais que isso, você é uma pessoa única, que mesmo sendo amada por tantos, não olhou ainda para sua grandiosidade e poder pessoal para amá-la incondicionalmente. Para entender que o prazer é muito bom, saudável, gratificante, mas o “além do prazer” é destruidor, enganador e falso. Você não está sozinha, (o), tem a si mesmo como seu melhor companheiro, acredite: dizer não para nós mesmos é fundamental no processo de crescimento e na estruturação do nosso eu.
DRA MARILETE VIEIRA ZAMPAR - Formada e Pós-Graduada em Letras - FFCL R.P., Psicanálise – UNIFRAN, Psicopedagogia – UNISANTANA; Psicodrama Nos Distúrbios Psicossomáticos - EPP Doutorado - WDU; Pós-Graduação em Saúde Mental – FCM Unicamp; Pós-Graduação em Transtornos Alimentares – FCM Unicamp; Neurociência – UFMG; Neuropsicopedagogia – UCAM. Membro da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil.
Contato: Praça Presidente Kennedy, 102 - Guaxupé – MG - Telefone: (35) 3551-0692
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