Com um patrimônio admirável, Milton investe forte no sul de Minas: possui loteamentos, edifícios e está no agronegócio, cultivando café e milho, além da criação de gado nelore
Quem pensa que ele está se aposentando, está equivocado. Aos 72 anos, como um patrimônio admirável que o microfone lhe deu, Milton Neves prova que ainda tem muito o que conquistar. Ele é craque em todas as áreas nas quais atua, seja no jornalismo, na construção civil ou no agronegócio. Tudo vai muito bem, obrigado.
Tendo rodado o mundo e conhecido personalidades inimagináveis, o muzambinhense Milton Neves jamais se esqueceu das origens – nem tampouco dos amigos de Muzambinho, Monte Belo e Guaxupé. Sempre está em contato com eles via rede sociais, telefonemas, whatsapp e pessoalmente na cidade de São Paulo, para onde o destino o levou e lá vive com a família desde a década de 70. Além de um dos maiores jornalistas esportivos do país - e considerado a memória do futebol brasileiro - é uma pessoa grata a Deus e com um imenso coração. É bem verdade que ele confia “desconfiando” mas, por trás do jornalista turrão mas bem-humorado, há um grande ser humano. Apesar de não ser judeu, tem amigos judaicos. Trouxe para si alguns ensinamentos, como por exemplo, compra tudo à vista e paga na totalidade todos os impostos devidos. Para ele, “quanto mais impostos pagos, mais dinheiro consegui ganhar”.
Miltinho conviveu pouco com o pai, de quem herdou o nome. O suficiente, porém, para lembrar das tardes em que ele ficava na varanda de seu sítio “Invernada”, em Monte Belo, que lá chamavam de alpendre, colado no radinho de pilha Mitsubishi. Além do rádio que mantém até hoje de recordação, Milton Neves guarda na memória os elogios que o pai fazia ao volante Écio, do Vasco da Gama.
Natural de Areado e criado em Varginha, “seo” Milton viveu também em Monte Belo e casou-se em Muzambinho, com dona Carmen. Autêntico mineiro, sofreu entretanto a influência das transmissões esportivas cariocas, que chegavam com força em Varginha. Desta forma, Milton Neves cresceu ouvindo do pai as histórias fantásticas do paulista Écio, nascido em Vinhedo, e seus companheiros do supertime do Vasco da Gama, como Paulinho, Bellini, Pinga e Coronel. Com a morte do pai, em 1960, Milton, dona Carmen e seu irmão mais velho, Homero, foram viver na casa da professora Antônia Carlos Fernandes, irmã de dona Carmen. Ela assumiu os sobrinhos como filhos e passou a comandar as despesas da família.
Atualmente, Milton Neves mora em Barueri, em um famoso condomínio fechado, em uma bela casa avaliada em mais de R$ 80 milhões. Ele não se cansa de dizer que Deus deu a ele muito mais que merecia. “Na minha casa só entra quem eu gosto e sei que também gosta de mim”, disse. Há que diga que a fortuna amealhada pelo maior jornalista esportivo do Brasil equivale as de Sílvio Santos e a do Bispo Edir Macedo, conforme divulgaram alguns sites neste ano. Milton desmente.
Atencioso, ele fala com gratidão de tudo o que conquistou com seu trabalho, além de sua paixão por vinhos. Sua adega guarda mais de mil rótulos rigorosamente escolhidos por ele. Grande parte é composta por Pêra-Manca, Abandonado, Dom Melchor e Barca Velha. Diz que depois que abandonou o uísque, se dedicou a estudar vinhos e foi bem-sucedido.
Ele falou sobre o programa “Terceiro Tempo”, que deixou a grade da emissora em julho. “Eu amo a Bandeirantes onde estou há mais de 30 anos. A família Saad é muito gentil e eu adoro a Band. Muitos fãs me elogiam mas reclamam realmente da saída do Terceiro Tempo da grade. Mas não foi mau. A Bandeirantes me lançou duas vezes. Eu agradeço muito. Eu sou Band Futebol Clube até morrer”, enfatizou.
Milton investe forte no sul de Minas. Possui loteamentos, edifícios e está no agronegócio. Sua fazenda - que leva o nome de sua esposa “Lenice Neves”, falecida em 2020, produz café, milho além da criação de gado nelore. Ele reclama que lhe roubaram um boi em um passado não muito distante. “Meu boi Felipão sumiu e sumiram umas 50 vacas nelore. Foi uma roubalheira danada. Mas quem roubou vai pro inferno”, pragueja. Mas ele corrige a reportagem. “Desculpa, eu não produzo nada. Quem produz é o meu filho Fábio Lucas Neves, maravilhoso. Eu morei na roça, mas eu não entendo nada”.
Ele explica que, atualmente, a Fazenda é autossuficiente e está passando por uma série de reformas e melhorias, sobretudo na sede. “Estive é outro dia. Chorei muito ao lado da casa ao lembrar da minha Lenice. Era o lugar que ela mais gostava”. Ele também está construindo um novo edifício na cidade de Muzambinho. “Estamos organizando o Residencial Lenice Neves que terá 15 andares”, considerou. Milton confirma que, quando se aposentar definitivamente, voltará para Muzambinho, Guaxupé e Monte Belo - apesar de ter imóveis em Nova Iorque e em Miami, nos Estados Unidos.
Milton conta que nunca teve uma meta na vida e as coisas foram surgindo naturalmente. “Saí de Muzambinho sem nada, mas com tudo. Tive uma criação maravilhosa de três mulheres – a avó Beatriz, minha mãe Carmen e minha tia Antônia. Fiquei órfão de pai aos 9 anos e foram essas mulheres que cuidaram de mim e me deram o mais importante da vida: ter vergonha na cara. Quando eu era criança, a gente comprava um frango por mês e ela tirava sempre a parte dela e dava mim”.
A infância ele diz que foi feliz e de muito aprendizado. “Uma vez peguei uma carteira com 2 cruzeiros que um amigo havia esquecido. Tinha uns 6 anos e pensei: com esse dinheiro dá para comprar um picolé e 2 pacotinhos de figurinhas. Peguei o dinheiro e escondi a carteira no fundo da horta, em um galho de uma jabuticabeira. Foi quando chegou o dono da carteira e minha tia a devolveu a ele. Ela me disse: não somos ricos, mas também não somos tão pobres. Você não precisa fazer isso. Você não tem que se intrometer no que não é nosso. E essa bronca foi fundamental na minha vida”.
Deixando Muzambinho, Milton seguiu para Curitiba onde prestou vestibular. “Fui reprovado para o curso de Odontologia. Mas também já não tinha passado nos concursos do Banco do Brasil e da Petrobrás. Graças a Deus, fracassei! Mas gostei do Santos, gostei do Rádio e coloquei na cabeça que tinha que ir para São Paulo trabalhar na Rádio Bandeirantes. Ouvia outras rádios também, como a Tupi e a Nacional, do Rio de Janeiro. Vi um anúncio do vestibular de Jornalismo na Supero - Sociedade Universitária Paulista de Ensino Renovado Faculdades Objetivo e, desta vez, prestei fui aprovado. Morei em porão, depois aluguei apartamento onde fiquei com minha mãe – heroica e maravilhosa. Minha Tia Antônia, que era professora, bancou a gente em São Paulo: pensão, comida e faculdade até o momento em que ela não aguentou mais. Fiquei um mês fora do Objetivo. Meus amigos não concordavam em me ver fora da faculdade e foram até o diretor, João Carlos Di Gênio, para pedir uma bolsa de estudos para mim. Ele concedeu até eu me formar”.
Com o diploma de jornalista nas mãos, MN conseguiu um emprego de repórter de trânsito do Detran, na Gazeta. Foi nesta época que conheceu Osmar Santos, na década de 70. “Era uma quarta-feira e ele estava emplacando seu carro e começamos a conversar. Falei de futebol, dos comentaristas, narradores e dos repórteres esportivos. Ele se despediu, foi embora e eu continuei meu trabalho. Por volta das 17h30 tocou o magnético, a antiga linha direta que a gente usava, e era o jornalista Fernando Vieira de Melo. Ele queria falar comigo. E toda vez que ele queria falar era bronca. Mas desta vez foi diferente. Disse que o Osmar Santos contou que havia descoberto um gênio do futebol e do rádio e que eu não poderia continuar no trânsito. Entrei no ar naquele mesmo dia substituindo o Fausto Silva, no Plantão Esportivo da rádio. Escrevi tudo a mão o que iria falar sobre Curitiba X Inter e Flamengo X Madureira. Eu tinha apenas 22 anos e nem sabia telefonar. Tocava o telefone e eu saía de perto. Até que um dia o jornalista Paulo Barcun, no início da carreira, me disse: você é muito metido. Não atende o telefone. Pensa que é mais que a gente?. E eu respondi: eu não atendo porque não sei qual é o lado da boca e o lado do ouvido. Ele olhou para mim com maior respeito e pena. Enfim, o rádio foi e é minha vida até hoje”.
A estreia na TV foi uma consequência natural para o admirável talento do jornalista mineiro, na TV Bandeirantes. “Agradeço muito ao líder, João Carlos Saad, o Johnny Saad, pessoa maravilhosa. É uma empresa com mais de 2 mil funcionários e a forma dele agir é fantástica. Sou grato também ao Jota Ávila. Ambos fizeram minha vida mudar. Ele relata que alguns amigos dizem que não teve, não tem e nunca terá um jornalista igual a ele para falar de esporte dentro de um estúdio.
“Em 1999, quando fui para a TV, eu já era um grande jornalista do rádio. Achava que já tinha chegado no auge. Então me propuseram um programa chamado Super Técnico. Fiz o teste. Neste dia estava comigo meu filho mais velho, Rafael. Pensei que não ia dar certo. Meu negócio era o rádio. Depois de um mês de programa cheguei a conclusão que eu ainda não tinha começado minha vida no jornalismo. Aos 48 anos, quando pensei que já tinha conquistado tudo, foi quando realmente comecei minha carreira. O que eu tenho hoje, em todos os aspectos, devo 95% à televisão e 5% ao rádio. É isso”.
Neves é um dos grandes propagandistas de Muzambinho, Guaxupé e Monte Belo, cidades que possui fortes vínculos. “E nesses anos todos fiz propaganda de grandes marcas, grandes campanhas e a publicidade foi fundamental na minha vida. Mas as maiores campanhas que fiz - e de graça - foram das marcas Muzambinho e Guaxupé. Tenho mais de 100 títulos de cidadania honorária e, entre elas, está a de Cidadão Guaxupeano”, diz.
Entre as centenas de homenagens recebidas, está uma concedida pelo Senado Federal. “Fui homenageado recentemente no Senado Federal porque apoio o Hospital de Câncer de Jaú que atende doentes de Câncer. Muitos deputados me ajudaram indicando repasses federais para manter o hospital em atividade. José Serra esteve presente ao lado de outros senadores. Em Muzambinho, temos 327 doentes e há 14 anos mantenho em Jaú uma Casa de Atendimento ao Muzambinhense Com Câncer, graças a Deus”.
“O REI DO GADO”
Não é novidade que Milton Neves é um dos grandes amigos do escritor Benedito Ruy Barbosa. E dessa amizade, surgiu a oportunidade de colocar Guaxupé em evidência nacional e internacional através da novela “O Rei do Gado”. Para MN, “Guaxupé tinha que fazer uma estátua do Benedito Ruy Barbosa em praça pública porque ele fez o nome da cidade ser internacionalmente conhecido através da novela “O Rei do Gado”, de 1996 e que nas reprises atingiu números de audiência ainda maiores. Benedito sempre gostou muito de mim e certo dia me ligou dizendo que precisava conhecer fazendas no Sul de Minas. Pensei que ele quisesse investir e disse para ele largar mão disso porque fazenda dá muito trabalho. Ele respondeu: não, estou escrevendo uma novela chamada O Rei do Gado e uma parte terá que ser ambientada em uma fazenda. Como eu estava saindo de férias e indo para Muzambinho, ele seguiu comigo. Ficou hospedado na minha casa, localizada na Praça dos Andradas. Ficou por lá 15 dias e dormia no quarto do meu filho Rafael. Meu irmão, Homero, o levou para conhecer as fazendas da região. Eles visitaram mais de 10 fazendas e Benedito gostou de uma em Areado. Mas a proprietária, uma viúva de 70 anos na época, ficou desconfiada de tudo e não autorizou as gravações. Ela não acreditou que era o Benedito Ruy Barbosa porque ele era simples demais para ser alguém de televisão”.
Assim, MN indicou um outro amigo que tinha uma fazenda em Guaxupé. Esse amigo era Olavo Barbosa. “Até que chegaram ao Olavo Barbosa. Benedito contou sua história e Olavo também contou a dele. Apesar de ser um homem extremamente conservador, ele cedeu a fazenda para as gravações. Benedito e ele e se tornaram muito amigos. Raul Cortez, Glória Pires e outras estrelas da Globo gravaram cenas por lá e o nome de Guaxupé foi citado mais de 700 vezes. Um fato inusitado foi que na primeira apresentação, eu ainda não era de televisão, e o nome do Coronel Milton Neves foi citado várias vezes. Agora, nas reprises, as cenas do Antonio Fagundes ligando para mim foram cortadas. Uma sacanagem! Só porque estou na TV”, disse.
Outro fato curioso relatado por Milton foi que “O Rei do Gado” atrasou para estrear. A novela que precedeu estava registrando boa audiência e a Globo resolveu esticá-la. E toda a paixão de Muzambinho e Guaxupé pela novela virou motivo de desconfiança. Antes diziam: “olha, o Mirtinho está com a bola toda... vai colocar Muzambinho e Guaxupé na novela da Globo”. Com o atraso, a coisa mudou e diziam “esse Mirtinho é papudo... não vai ter novela nenhuma... olha que vergonha”. “Mas a novela estreou e não teve um que tenha me pedido desculpas por não acreditar em mim! Foi igualmente com o edifício que construímos em Muzambinho. Chamavam de King Kong porque começamos e não terminamos porque alguns parceiros da época atravessaram uma crise e as obras foram paralisadas. Mas depois conseguimos outros investidores e terminamos o prédio. E, agora, vem outro por aí”, comenta.
EMPRESÁRIO DE SUCESSO
Milton se tornou um grande empresário. Soube administrar muito bem seus negócios e seu patrimônio ultrapassa a casa do bilhão de Reais. Tem um escritório da Avenida Paulista chamado Terceiro Tempo que cuida do seu site e das redes sociais. “Gosto muito disso. Só contrato jornalistas diplomados e já revelamos muitos talentos que hoje estão na Revista Veja, BandNews, ESPN, Rádios Bandeirantes e Jovem Pan. Também controla minha vida como veiculador de publicidade. Hoje sou bureau de Mídia e as empresas que me procuram têm uma estrutura toda para gerar esse conteúdo. Tenho algumas fazendas no Sul de Minas onde produzo café, mas o forte mesmo é o gado. Era algo sem muita pretensão mas virou um negócio grande e hoje é administrada pelo meu filho, que também é jornalista, Fábio Neves. Agora começamos a avançar no mercado imobiliário. Já fizemos um belo loteamento em Monte Belo e agora faremos em Guaxupé. Estamos aguardando a aprovação para iniciar as obras e colaborar com o crescimento da cidade. Tenho imóveis em Nova Iorque e Miami e começamos a construir o Edifício Lenice Neves, em Muzambinho”.
MARKETEIRO
Dizem que jornalista não deve fazer propaganda e MN foi muito criticado por isso. “Já perdi muito tempo em rebater essa bobagem (risos). Às vezes encontro alguns jornalistas da Globo que fazem propaganda e justificam isso porque são do entretenimento. É o caso do Pedro Bial, do Tiago Leifert e até a Fátima Bernardes, que não são mais jornalistas, são do entretenimento. Acho isso uma hipocrisia danada. Hoje está todo mundo fazendo publicidade. Os patrulheiros de plantão ficavam me enchendo porque eu estava denegrindo a classe ao fazer propagandas. Mas, no fundo, estavam era com inveja porque deu muito certo comigo. Sou um grande vitorioso”. dispara.
Outra regra do jornalismo seria de que os profissionais da área não podiam revelar para qual time torciam. MN também quebrou esse tabu. “Eu sou um sujeito que garganteia tudo o que conquista. Dizem que sou pioneiro em tudo - até em dizer que sou Santista de peito aberto. Isso é uma cascata! Em 1972 tinha a Mesa Redonda, na Gazeta, e cada jornalista tinha seu time e revelava isso. Joarez Soares, por exemplo, já dizia que era Corinthiano desde a década de 60.
VIDA E FAMÍLIA
Ele diz que tudo que a vida lhe deu foi 50 milhões de vezes superior do que ele imaginava. “Meu casamento com a Lenice, meus três filhos, minhas netas, minha carreira, minha voz e até minha cara. Alguns dizem que sou feio e cabeçudo, mas, mesmo assim, está bom. Tudo deu certo. Tem aquele filme “De volta para o futuro”, mas meu negócio é “De volta para o passado”. Gostaria de oferecer tudo o que tenho hoje ao meus pais, minha avó e minhas tias. Tínhamos uma vida humilde e difícil em Muzambinho. Vejo tudo o que tenho e não posso oferecer nada disso a eles. Me emociono e chegou a chorar. Queria estar no passado para não deixá-los passar por tanto sofrimento para sustentar a gente. Perdi minha esposa, Lenice, minha primeira namorada, minha esposa e a única mulher da minha vida. Tentei namorar umas quinze meninas lá de Muzambinho e nenhuma delas me deu atenção porque eu era um pé de chinelo. Com a Lenice deu certo. Era ela quem pagava a entrada para eu ir no cinema. Eu não tinha dinheiro. Sou muito abençoado por Deus. Lutamos muito para dar um bom estudo aos filhos, muitas vezes sem dinheiro, mas conseguimos formá-los. Falam inglês fluentemente e outros idiomas também. Eu sou monoglota total. Não falo nem portunhol. Me lembro do professor de inglês, Jorge Farah, de Guaxupé, que lecionava em Muzambinho. Ele fazia a gente rezar em inglês. Ele dizia: aprenda inglês que vocês terão futuro. Hoje eu digo nas minhas palestras: aprendam inglês e dominem o computador. Caso contrário, serão goleiros sem braços. Sempre tem um da plateia que diz: mas você não fala inglês. Respondo: sou exceção à regra e isso não acontece com todo mundo”, concluiu.
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