Aquele circo sonhado em Guaxupé, na infância do ator, se tornou uma realidade no Brasil e conquistou admiradores pelo mundo
Um dos mais queridos e respeitados atores brasileiros comemora seus 65 anos de vida nesta quarta-feira, dia 29 de setembro. Trata-se do guaxupeano Marcos Frota, o filho do Vicentinho e da D. Tereza, das fazendas Jacuba e Viradouro.
Marcos Magano Frota nasceu em São Paulo em 29 de setembro de 1956 mas foi criado desde a infância em Guaxupé onde formou sua personalidade e sensibilidade. Por isso, em todas as entrevistas que concede, faz questão de falar que nasceu em Guaxupé, que é de Guaxupé, que sua cidade é Guaxupé.
Por telefone, Marcos Frota disse que está em um momento muito especial de sua vida e que as lembranças que traz de Guaxupé no coração pulsam cada dia mais forte. Está comemorando sua data na Serra de Petrópolis.
Relembrou os belos ipês amarelos de Guaxupé e parafraseou o Padre João Zecchin. "O ipê marca sua presença na paisagem, como o amigo marca sua presença na memória. O olhar espraia-se na distância e o amarelo esparso prende sua atenção. No espaço vasto da memória os amigos são lembrados com nitidez, em contraste com a multidão dos conhecidos", disse.
Ele lembrou de sua história em Guaxupé. Foi em uma casa da Rua Mancini que o ator passou grande parte da infância. Na esquina com a Av. Conde Ribeiro do Valle tinha um bar, onde ele via o pai Vicente Frota tomar aperitivos com os amigos. Mas era na chácara da família que o menino Marcos soltava a imaginação. Construía circos imaginários e brincava de trapézio em meio a espigas de milho.
Ao longo do tempo, o circo se real na vida de Marcos Frota. Em 2018, enquanto comemora 40 anos de carreira, ele teve a honra de participar da 71ª edição do Festival de Cannes, na Riviera Francesa, para lançamento do filme O Grande Circo Mìstico. “Um filme de todas as lembranças de Guaxupé passou na minha cabeça lá em Cannes. Não foi a minha carreira na televisão, nem no teatro, que me levaram a Cannes. Foi o circo.”
De volta ao tempo, aos 12 anos, Marcos se mudou de Guaxupé para São Paulo, onde conheceu Cibele Ferreira Frota, com quem foi casado por 17 anos. Quando não havia dinheiro para os dois irem ao circo, ela tinha preferência e contava tudo que viu.
A primeira peça de teatro de Marcos Frota, Coronel dos Coronéis, tinha estilo de um circo-teatro. Músicas caipiras de Milionário e José Rico, Leo Canhoto e Robertinho Marcos, entre outros, eram dramatizadas. No elenco, a consagrada Cássia Kiss. No começo da década de 80, Marcos fez sucesso no teatro com a adaptação do livro Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva.
O primeiro convite para atuar na TV Globo foi na minissérie Anarquistas, Graças a Deus, em 1984. Um sucesso leva ao outro. O diretor Daniel Filho o chamou para o remake de Selva de Pedra. Marcos recusou e declarou: “Eu pedi para a Globo fazer uma novela sobre circo. Eu queria muito levar o circo para a televisão, colocá-lo na mídia e reverenciar toda uma geração de artistas circenses, naquele momento em que o circo passava por uma transição”.
Do Cambalacho à Universidade
Marcos acredita que “quando o querer se aproxima de uma vontade divina, todos os sonhos se realizam.” Na novela Cambalacho, de 1986, o circo fez parte da história. Ele estudou trapézio para atuar como artista circense.
Aquele sonho antigo do menino de Guaxupé começava a tomar forma. Cambalacho projetou ainda mais o nome de Marcos Frota pelo país, como ator e trapezista. Ele recebeu ainda mais convites para fazer anúncios publicitários (inclusive para Casa das Linhas de Guaxupé), participou de muitos bailes de debutantes e começou a se apresentar como trapezista.
Um grande projeto surgiu em Fortaleza. Era o convite para implantar o projeto social Respeitável Público, que visava manter a tradição circense e formar um novo público. A primeira apresentação desse projeto contou com Antônio Fagundes. O Dono do Mundo esteve no picadeiro do circo. E não por acaso, Fagundes é um dos atores de O Grande Circo Místico.
A profissionalização de Marcos no circo foi se fortalecendo gradualmente. Em Fortaleza, ele ganhou espaço para montar um circo na cidade. Precisou conciliar as atividades circenses com a profissão de ator.
O ano de 1993 foi especial na carreira e na vida de Marcos Frota. Com o remake de Mulheres de Areia, o personagem autista de Tonho da Lua ganhou notoriedade nacional e internacional. Atualmente, faz sucesso em Portugal e na Rússia. “O Tonho da Lua me deu maturidade no ofício (de atuar)”.
A autora Ivani Ribeiro, em conversas com o ator, reforçava a intenção do lado espiritual do personagem e chegou a alterar o destino de Tonho na segunda versão da novela. Espiritualmente, foi neste ano que Marcos perdeu a esposa Cibele, vítima de um acidente de carro, próximo a casa deles, no Rio.
Para fechar o ano, em um especial da TV Globo, no Maracanã, Marcos Frota foi apresentado como ator e embaixador do circo. Foi uma motivação a mais criar uma universidade do circo. Um dos diretores da emissora o questionou: “Você é um novo Beto Carrero ou é um ator do nosso casting?” A resposta veio na prática e nos anos seguintes.
Místico e espiritual
O circo passou a ter um valor espiritual e se tornou um exercício de cidadania, sem deixar de lado a visão empresarial para viabilizar projetos. O maior projeto era a criação de uma universidade nessa área.
No começo do novo milênio, o circo de Marcos Frota tinha apresentação agendada em Ribeirão Preto.
O terreno não ficou pronto a tempo. Houve então oportunidade levar o espetáculo para São Sebastião do Paraíso. Na época, o ministro de Esporte e Turismo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assistiu a apresentação, ficou emocionado, e perguntou de que forma um ministro poderia ajudar. Marcos apresentou o projeto da Universidade do Circo, que tinha como modelo a Universidade Livre do Meio Ambiente, em Curitiba, e da Universidade da Paz, Unipaz, em Brasília.
Um ano depois dessa conversa com o ministro Carlos Melles, a Universidade Livro do Circo se tornou realidade em Brasília, com a presença da primeira-dama Ruth Cardoso na estreia. De lá até hoje, Marcos Frota profissionalizou o circo no Brasil e continua responsável pela formação de muitos profissionais circenses.
Em 2012, ele dublou um dos personagens de Madagascar 3, para a história de animais que foram para um circo, fugindo da perseguição de uma agente de controle de animais.
Três anos depois, em 2015, começaram as gravações de O Grande Circo Místico. É a adaptação de um conto de Jorge Andrade, publicado em 1938, sobre família austríaca de artistas de circo atuante em mais de uma década. A história ganhou versão teatral no começo da década de 80, com músicas de Chico Buarque e Edu Lobo, que também assinam a trilha sonora do filme.
Por conta da legislação brasileira que não permite animais em circo, nem mesmo para gravações, todo o filme foi rodado em Portugal. Nessa produção luso-franco-brasileira, o Brasil assumiu 70% do orçamento; Portugal respondeu por 20%; a França participou com 10%.
Marcos tem participação especial no filme como ator. O diretor Cacá Diegues também o convidou para uma assessoria na parte de circo. “A cultura circense é diferente da cultura cinematográfica”, explica Marcos, que encontrou artistas atuantes na Europa que aprenderam o ofício na Universidade brasileira do Circo.
Três anos mais tarde, em maio de 2018, o Grande Circo Místico teve apresentação especial em Cannes, fora da competição. Cacá Diegues foi homenageado pelo conjunto da sua obra cinematográfica.
No Rio de Janeiro, o Parque Municipal da Quinta da Boa Vista é o endereço da Universidade Livre do Circo, idealizada e implantada por Marcos Frota, com apoio cultural da Petrobras e outros parceiros. A estrutura complementar de equipamentos, lonas e profissionais possibilita apresentações por todo o país e no Exterior.
Já o projeto Unicirco engloba Arte, Educação e Comunidade e promove a formação profissional de jovens em situação de risco, visando à inserção no mercado de trabalho. O projeto também cria eventos em defesa dos direitos humanos, em especial pessoas com deficiência.
Aquele circo sonhado em Guaxupé, na infância do ator, se tornou uma realidade no Brasil e começa a conquistar admiradores pelo mundo. Marcos Frota define o circo como um “chamado espiritual”.
Também pode ser definido como um Grande Circo Místico. “Comemoro todas as minhas conquistas em Guaxupé. Foi aqui onde tudo começou. E essa reportagem tinha que ser publicada nesta Revista Mídia, a revista da minha cidade. Para mim, isso significa muito, pois minha história chama-se Guaxupé”.
AMIGOS
Sobre os amigos de perto e de longe, Marcos parafraseou Fernando Pessoa para expressar seu sentimento. "Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril", finalizou o aniversariante.
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