Resistência criativa dos grupos teatrais da região inclui audiovisuais
- Da Redação
- 5 de nov. de 2021
- 6 min de leitura
Por SILVIO REIS, jornalista

Sete integrantes de grupos teatrais da região foram entrevistados e divulgaram formas diferenciadas de resistências no ofício teatral. Na pandemia do coronavírus, o audiovisual tem ajudado a manter o teatro.
Pioneirismo regional
Como manda a tradição, os mais velhos ou experientes ficam em primeiro lugar. No currículo do Grupo Teatral Boca de Cena, de Muzambinho, consta que o grupo foi formado em 1999 e oficializado em janeiro de 2000. Com quase 22 anos de atuação, das 42 peças produzidas, 14 foram clássicos do teatro nacional e mundial. As outras peças são de autoria do fundador do grupo, Fábio Anderson, que também adaptou textos teatrais. Ele ainda produziu e dirigiu peças para crianças, público infanto-juvenil e adulto. Segundo a integrante e atriz Camila Fernandes, o Boca de Cena optou por não participar de festivais de teatro. Atualmente, com 11 integrantes, quatro são moradores de Poços de Caldas, Cabo Verde e Juruaia. Nessas três cidades próximas, e também Pouso Alegre, o Boca de Cena já se apresentou. A prioridade é atuar em espaços culturais e alternativos de Muzambinho. Uma característica peculiar é o pedido de peças com apresentação em empresas (restaurante e loja). Em 2019 e 2020, o grupo ensaiou a peça A Visita da Velha Senhora, de Fábio Anderson, com Camila na direção. A apresentação pública depende das flexibilizações da pandemia.
Máscaras há 20 anos
Continua após a publicidade

O Grupo Máscaras, de Guaranésia, comemorou 20 anos em setembro deste ano, com 26 peças produzidas. Desse total, seis trabalhos foram criação coletiva do grupo e duas peças adaptadas. Ao participar de 30 festivais de teatro e dança, o Grupo Máscaras conquistou 19 prêmios, principalmente nas categorias Teatro de Rua e Alternativo. Em diferentes épocas, o grupo teve conquistas na Secretaria Estadual de Cultura de Minas Gerais, Secult-MG. O Espaço Máscaras Cultural, inaugurado em 2005, venceu duas vezes o Edital Cena Minas (2008 e 2015) e uma vez o edital do Fundo Estadual de Cultura (2016). Foi reconhecido como Utilidade Pública Estadual (e Municipal). Em 2016, o governo federal cedeu a certificação Ponto de Cultura Espaço Máscaras, para oferecer gratuitamente cursos livres de teatro, dança, oficinas de arte, encontros, saraus e cultura popular na Cordelteca João de Sá, contemplada duas vezes com o prêmio Culturas Populares do governo federal. Em 2018, a Secult-MG destinou recursos para a realização do circuito de festivais de Teatro no interior do estado mineiro. Uma comissão escolheu e geriu recursos para a realização de 14 festivais de teatro. O Grupo Máscaras foi o único representante do Sul de Minas no Circuito Minas. De 2003 a 2010, o Grupo Máscaras realizou sete edições do Festival Regional de Dança. A partir de 2016, foi criado o Festival de Teatro de Guaranésia, Feteg, que se tornou internacional com a participação de um grupo teatral do México. Com a pandemia, deixou de acontecer em 2020 e 2021. Mauro César, o Maurinho Máscaras, informa que o O Feteg 5º Ato foi somente adiado. A programação e os grupos selecionados foram mantidos. Com o avanço da vacinação anticovid, o festival foi agendado para abril de 2022, com 31 espetáculos confirmados, sendo 29 para a mostra competitiva e dois convidados, incluindo um grupo teatral da Colômbia.
Tramas & Dramas chega aos 15

Nesses 15 anos de Tramas & Dramas, o grupo teatral produziu mais de 20 espetáculos e intensificou a produção depois do incentivo de dois festivais promovidos pelo Fundo Municipal de Cultura (Guaxupé Café Festival e Natal de Luz). Apenas as duas primeiras peças encenadas pelo grupo foram clássicos do teatro mundial. A maioria dos espetáculos é autoral ou adaptações de livros e textos dramatúrgicos, como Genaro e Dora, escrito por Carolina Borges especialmente para o grupo em 2011. O Tramas & Dramas participou de diversos festivais de teatro e foi grupo convidado. Destaque para o Festival de Artes Cênicas de Conselheiro Lafaiete, um dos maiores do Brasil e o Festival Nacional de Teatro de Passos. Esteve em todas as edições do Festival Internacional de Teatro de Guaranésia, por meio de edital de seleção, competindo com grupos de todo o país. São muitos prêmios, nas mais diversas categorias, informa a atriz e fundadora Vanessa Marques. “Os dois espetáculos mais premiados, com seis troféus cada um, foram Enquanto a Chuva Não vem e Café de Meia. Há dez anos, o grupo lançou o Festival de Teatro Tramas & Dramas, que não competição entre as peças participantes. O objetivo é a formação de atores e público em Guaxupé. Em 2014, o festival não aconteceu pela perda precoce da fundadora e atriz do grupo, Arlete Mendes, em agosto de 2013. Em 2020, a pandemia tornou online o novo festival. E não há previsão de realizá-lo este ano. Em tempos de pandemia, foi lançado o projeto Traminhas, em 2020, para oferecer ao público infantil e infanto-juvenil peças com estética e temática que motivem crianças a pensar, a questionar e abrir o horizonte para um novo olhar. É uma geração acostumada com o audiovisual. Por isso, a estética e a pesquisa de linguagem são marcas do projeto para estabelecer conexão com o público.
Passarim do Elias

O Instituto Cultural Elias José (ICEJ) é uma entidade de cunho literário, cultural e artístico, sediada em Guaxupé. Fundado em 2008 por Silvia Monteiro Elias, viúva do escritor, divulga a literatura infantil para manter viva a obra do escritor Elias José. Privilegia a linguagem oral através de contadores de histórias. Junto com o ICEJ foi criado o Grupo Passarim, responsável pela parte artística da instituição, contação de histórias, atividades com poesias rimadas, cantigas de roda e apresentações teatrais. Além de teatros, centros culturais, praças o Grupo Passarim se apresenta em escolas, entidades carentes, bibliotecas, livrarias, feiras livres e onde os livros e histórias são bem-vindos. O Passarim prioriza obras de Elias José para interagir com as crianças. Mas como o próprio Elias recontava historias, textos e contos populares, o Grupo também apresenta obras que se identifiquem os trabalhos do ICEJ.Desde 2011, acontece atualmente a Semana Elias José é um festival nacional de Literatura infanto-juvenil, que agrega teatro, contação de histórias em escolas, feira de livros, atividades realizadas por convidados, rodas de conversas e debates entre escritores. Com a morte da diretora do ICEJ, Silvia Elias, em 2019, as atividades foram interrompidas para uma nova restruturação no instituto. Na sequência, a pandemia do coronavírus afetou as atividades da Semana Elias José. A retomada aconteceu em 2021, com trabalhos audiovisuais, oficinas online, digitalização das obras do Elias entre outras ações. Nesses 13 anos, o Passarim voou para diversas cidades distantes e próximas para participar de festivais de teatro, semanas literárias e feiras de livros. Conquistou prêmios em praticamente todas as categorias teatrais.Atualmente, a diretora da Instituição é Ana Elisa Ribeiro (Lik), com coordenação de Bruna Emiliano, direção artística de Pedro Caetano Simões e a equipe de contadores de histórias: Silas Inocêncio, Elisângela Ferreira e Angélica Silva, e o músico Douglas Donizetti, ICEJ e Passariam também contam com o apoio dos filhos de Elias: Iara, Lívia e Érico.
Primeiro filme e Lobas Virtuais

Outros dois grupos teatrais de Muzambinho se destacam pela originalidade. A Companhia Teatral Érika Evangelista iniciou trabalhos um 2012. Quatro anos depois, a Secretaria Municipal de Cultura criou o Festival de Teatro de Rua em parceria com a Cia. O Festival não teve continuidade nas gestões municipais posteriores. A Companhia já participou de festivais de teatro em Guaxupé e Juruaia. Com a pandemia, o grupo se reinventou e fez uma livre adaptação da peça teatral A Megera Domada, de Shakespeare, para um longa-metragem. O filme já foi produzido e tem estreia prevista para dezembro de 2021. Segundo Érika Evangelista, o principal projeto da Companhia Teatral pós-pandemia é continuar com projetos de longa-metragem.

O Grupo Teatral Las Lobas iniciou pesquisas em agosto de 2019, com dramaturgia própria e adaptações literárias. A pandemia levou o grupo a participar de três festivais onlin. No Mostra de Cenas Curtas, do Máscaras, Thais Podesta foi indicada melhor atriz. No Festival Curte Vinhedo, a indicação de melhor atriz foi para Camila Fernandes. Levaram prêmio de melhor Cena pelo júri popular. Em 2021, no festival online de São Pedro, SP, duas indicações e prêmio de melhor conjunto de atores. O Las Lobas utiliza elementos de artes cênicas, visuais, musicais, arteterapia e outros formatos artísticos. Os trabalhos destacam revoluções da mulher contemporânea, o empoderamento, protagonismo feminino. Interpretações de arquétipos, relatos pessoais e muito mais. O mais recente trabalho do grupo, ainda inédito, é a peça Instinto, baseada no livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés. O espetáculo reúne performance, contação de histórias e dramaturgia teatral. O texto poético leva à reflexão da importância da intuição de uma mulher e instiga o público a uma imersão do universo feminino.
Nascimentos na pandemia

Na pandemia, a prefeitura de Muzambinho iniciou a construção e restauração da fachada do Teatro Bernardo Guimarães, reconstruído em 1904, depois de um incêndio. A obra, que ainda não foi concluída, será palco para apresentações teatrais locais e regionais. No começo de 2021, Guaxupé ganhou um novo grupo de teatro. O (A)abordar nasceu do desejo e da costura de histórias, vivências e sonhos compartilhados por artistas guaxupeanos acessando narrativas e expressividades de nossos corpos. O primeiro trabalho realizado foi Vida em Grãos, um projeto audiovisual contemplado pela Lei Aldir Blanc, em Guaxupé. Por meio de contos e prosas, retrata os cafezais da região sob a ótica do trabalhador, com registro de narrativas. Segundo Flávia Romero Marques (Vinha), o projeto do coletivo é seguir pesquisas artísticas de forma online, até retomar gradativamente aos palcos, com segurança e seguindo orientações sanitárias.
Nascer na pandemia também é resistência.
Comentarios