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Da Redação

OS IMORTAIS QUE ESCREVERAM A HISTÓRIA DAS ORQUÍDEAS DE GUAXUPÉ


Nícoli é o maior em tudo: dedicação, coragem, companheirismo e bondade.” (Dr. Albertinho)

A história das orquídeas de Guaxupé passam, necessariamente, pelas histórias de João Antonio Nícoli e Alberto Carlos Pereira Filho, dois grandes orquidofilistas que têm suas contribuições registradas de forma indelével nestes 70 anos.


O médico Alberto Carlos Pereira Filho, mais conhecido como Dr. Albertinho, se encantou por uma exposição de flores, em uma vitrine no Rio de Janeiro, Guaxupé já tinha dois especialistas floricultores: João Antônio Nícoli e Jair Pinto, que deram respaldo para a criação do Núcleo de Orquidófilos na cidade.


A proposta de ter a orquídea como símbolo cultural e turístico do município contou com vários colaboradores: Carlos Prósperi, Geraldo Vômero, Gilberto Pasqua, Jorge Yunes, Vinícius Eclissato, entre outros parceiros que se reuniam para discutir o projeto. O apoio do Dr. Isaac Ferreira Leite e, posteriormente, do bispo Dom Hugo Bressane de Araújo, agregou mais nomes, como os Mezziara, Dr. Arthur Fernandes Leão, Sebastião de Sá e dois representantes de São Paulo: Ferdinand Kracowizes e Nery Siqueira e Silva.


Em abril de 1951, uma reunião na fazenda Bocaina efetivou o Núcleo dos Orquidófilos de Guaxupé. A primeira diretoria foi formada por Dr. Albertinho na presidência, Dom Hugo como presidente de honra e João Antônio Nícoli como secretário. A solenidade de oficialização do Núcleo foi em 10 de junho de 1951.


Dois anos depois, a primeira exposição de orquídeas aconteceu na vitrine da loja de Jacob Miguel Sabbag, na Av. Conde Ribeiro do Valle. Orquidófilos de Guaxupé e de Casa Branca despertaram atenção e curiosidade, tanto pela quantidade e variedade de orquídeas expostas quanto pela presença dos organizadores na calçada e na loja.


A primeira rainha da Festa, Fátima Cury, conta que em 1953 o Clube Guaxupé passava por reforma. O baile aconteceu no Armazém do Jota Marcílio, na Avenida, bem próximo da exposição. A primeira Festa durou vários dias. A coroação da rainha e princesa se deu uma semana depois da divulgação da quantidade de ingressos vendidos.


Albertinho e Cida Bolonha

No ano seguinte, o evento passou a realizado na parte térrea do Clube Guaxupé. O jornal Folha do Povo, de 25/07/1954, informa que o Núcleo promoveu dois eventos simultâneos naquele ano: a 2ª Exposição Regional de Orquídeas e Plantas Ornamentais de Guaxupé, com adesão do Núcleo de Casa Branca e do circuito paulista, e uma Exposição Agroindustrial, na empresa de Olavo Barbosa.


Em 1958, a 6ª Festa das Orquídeas de Guaxupé já era uma das maiores exposições do País. Recebeu expositores de Campinas, São Paulo, Santos, Santo André e do interior do Estado: Amparo, Caconde, Casa Branca, São João da Boa Vista e alguns representantes de cidades mineiras.


Para agregar mais beleza ao evento, o Núcleo dos Orquidófilos trazia as misses do ano, de Minas Gerais e São Paulo. A ex-professora Cida Bolonha se recorda do ano em que Guaxupé recebeu sete misses. A maioria representava a cidade dos expositores participantes.

Organizado pelo Clube Guaxupé, acontecia mais de um baile nos três dias de exposição. O baile da coroação da rainha e princesa era muito esperado. Moradora de Belo Horizonte, Valdívia Muniz (Diva) recorda do seu reinado em 1967: “Meu pai trabalhou muito para me eleger.”


A década de 1960 foi de crescimento e glamour para a Festa das Orquídeas. A apresentação da Esquadrilha da Fumaça, da Força Aeronáutica Brasileira, FAB, era uma grande atração. Em algumas edições, militares em formação da Escola de Cadetes da Aeronáutica de Pirassununga, SP, dançaram valsa com a rainha e princesa.


Na 10ª Festa, a Exposição Regional se tornou Interestadual, com uma programação bem diversificada. Regina Duarte ainda não era atriz quando esteve em Guaxupé para apresentar poesia e música. Em 1964, o Cine São Carlos e o Clube receberam um recital das Princesas do Violão, formado por vinte e duas paulistas. As melhores orquestras do País traziam grande público para a cidade.


O glamour dos bailes também se estendeu para a Av. Conde Ribeiro do Valle. Publicações da Folha do Povo registraram que em 1966 e 67 foram expostas fantasias do carnaval carioca premiadas no Teatro Municipal do Rio.


A capital floral de Minas passou a ter uma Exposição Nacional a partir de 1971. Jair Rodrigues cantou no baile inaugural da 22ª Festa. A cidade teve tantos visitantes que a abertura oficial foi em frente à prefeitura.


Somente em 1975, depois de 23 anos de evento, a Superintendência de Turismo da Secretaria da Indústria e Comércio de Minas Gerais incluiu a Festa das Orquídeas de Guaxupé no calendário turístico estadual, mas o evento já atraia turistas de todo o país e até de outros países.


Em diferentes épocas e de diversas formas, Guaxupé obteve conquistas por meio do Núcleo de Orquidófilos. Um dos exemplos é o asfaltamento entre São José do Rio Pardo até a divisa com Minas, em Tapiratiba (onde nasceu João Antônio Nícoli).


No início dos anos 1970, o secretário estadual de Transportes de São Paulo passava uns dias na Fazenda da Onça, em Guaranésia, e recebeu visitas. Além do convite para um jantar no Núcleo, pediram que ele interviesse junto ao governador paulista para a construção de uma rodovia de São José do Rio Pardo até a divisa mineira, onde fica Guaxupé. O transporte de visitantes e orquídeas era muito prejudicado em estradas de terra.


O secretário estadual afirmou que não poderia interceder. No entanto, uma semana depois foi publicada a abertura de licitação para o asfaltamento do trecho solicitado. O governo de Minas completou o asfalto que faltava. Assim, nasceu a rodovia Jamil Nasser.


O ex-presidente do Núcleo, João Carlos Prósperi Gabriel (Peixinho) informa que a prefeitura convidava os patronos da Festa e sempre obtinha melhorias para a cidade. O outro benefício era o aumento de lucro no comércio em geral.


Os associados do Núcleo conseguiam apoios porque a Festa tinha credibilidade e tradição. No entanto, cada edição representava um desafio financeiro a ser superado. Alguns fundadores do Núcleo, como João Antônio Nícoli e Dr. Albertinho, e também orquidófilos como José Pedro Muniz, da comissão organizadora, investiam recursos próprios. Pela grandeza da Festa, expositores premiados ganhavam uma peça de prata.


Segundo Cida Bolonha, uma das formas de fazer caixa para a Festa era o sorteio anual de um carro, até o governo federal proibir sorteios no País. Em 20.05.1969, vereadores aprovaram uma verba anual da prefeitura para a Festa das Orquídeas, no valor inicial de hum mil cruzeiros novos. Com esse valor reajustado, era possível ajudar nos custos de hospedagem e refeição para os expositores visitantes, na produção de cartazes e convites, entre outras colaborações.


No jornal Festa das Orquídeas, comemorativo aos 40 anos do evento, Dr. Albertinho publicou o artigo “Meu vaso de xaxim” para agradecer alguns dos muitos colaboradores locais e de fora, como Luiz Vicente Calicchio, Olavo Barbosa, Capitão Romis Nicolau, José Camilo, Antônio Angelim, Severo Antônio da Silva, Jair Teodoro dos Santos, Dr. Isaac Ferreira Leite e Dom Hugo Bressane de Araújo. Faltaram nomes de provedores e voluntários.

João Antônio Nícoli recebeu um reconhecimento especial no artigo do Dr. Albertinho. “Tornou-se o elo de ligação (sic) desta cidade com os expositores do país inteiro, até por questões comerciais, pois se profissionalizou em floricultura, aumentando o seu relacionamento com todos aqueles que se interessassem por flores. Nícoli é o maior em tudo: dedicação, coragem, companheirismo e bondade.”


A Festa tinha dois eventos paralelos. Um grande churrasco substituía um dos almoços para os visitantes. Na maioria das vezes, foi realizado no sítio de João Antônio Nicoli e do seu genro Ubiracy Cabral, como também na casa do Dr. Albertinho. O coquetel de abertura da Festa, no segundo andar do Clube Guaxupé, expressava a receptividade guaxupeana e o bom gosto dos organizadores.


Ao se casar com o médico e viúvo Dr. Albertinho, Maria Aparecida Bolonha assumiu esses dois eventos, temporariamente, além de hospedar visitantes em casa. De 1985 a 1997, ela organizou um churrasco para mais de duzentos participantes. Chegou a ter quatrocentas pessoas, em um espaço bem arborizado. As mesas ficavam embaixo de árvores. Tinha música ao vivo e um palco improvisado, onde Márcia Tauil se apresentou algumas vezes.


O trabalho começava com meses de antecedência. O empresário Olavo Barbosa contribuía com a doação de uma vaca, que era trocada por carnes em um açougue da cidade. Ainda assim, as despesas eram altas. A mesa de sobremesa tinha que encher os olhos. Em uma das edições, serviram mamão papaia com sorvete. Deu muito trabalho, mas compensou.

Com a morte de Dr. Albertinho, em março de 1998, o churrasco daquele ano foi substituído por um almoço no Lions Club de Guaxupé, do qual João Antônio Nícoli foi um dos fundadores. Com o tempo, expositores e convidados passaram a almoçar em um restaurante da cidade.


A tradição glamourosa da Festa foi se adaptando aos novos tempos. Em vez de dois bailes, acontecia um. Atualmente, a rainha recebe flores e a faixa, sem baile. A gerente administrativa do Clube Guaxupé, Alessandra Ricciardi, informou que as exposições no salão nobre ocorreram somente dois anos. Um dos motivos era a falta de acessibilidade, naquela época. Depois de quase 50 anos no mesmo endereço, a Festa das Orquídeas passou a acontecer na Casa da Cultura, no começo do ano 2000.


Com a implantação do Marco Regulatório em Guaxupé, que é o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil, o Núcleo dos Orquidófilos recebeu R$ 75 mil em 2019, que foi repassado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico. Esta verba cobriu os gastos da Festa, como hospedagem e alimentação para expositores e convidados, e possibilitou que orquidófilos locais participassem de uma média de sessenta exposições de orquídeas pelo País durante o ano.


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