
Conforme dados do IBGE, o Brasil tem cerca de e 270 mil mães especiais que possuem filhos especiais. Como assim? Isso mesmo, mães que têm filhos especiais, como os portadores da síndrome de Down, também são especiais porque foram escolhidas para gerarem filhos especiais.
A síndrome de Down é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre na hora da concepção de uma criança. As pessoas com síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população. Não é uma doença, mas uma condição da pessoa associada a algumas questões para as quais os pais devem estar atentos desde o seu nascimento. São especiais assim como seus pais.
A professora de Educação Física, Milena Goulart Souza de Freitas, de 39 anos, é uma dessas 270 mil mães brasileiras especiais. É casada, possui Mestrado em Ciências pela Unifesp e é Docente do Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé. Ela é a mamãe da Elisa, de 1 ano e 9 meses.
Ela disse que sempre teve vontade de ser mãe e, quando se casou, aos 31 anos, esse desejo aumentou. Depois de um ano de casados, decidiram engravidar. ”Acho que nasci para ser mãe! Sempre foi um sentimento que veio do coração", disse.
Milena explica que o resultado positivo para gravidez demorou um pouco para acontecer. “Foi depois de 6 anos de tentativa e de 3 Fertilizações In Vitro negativadas. Na quarta tentativa, resolvi fazer o teste sozinha em casa. Quando apareceu o resultado positivo eu fiquei uns 30 segundos olhando para entender se realmente estava vendo certo. Desabei a chorar. É um sentimento que não dá para explicar!”.
Após a confirmação, Milena começou a preparar-se para a chegada da primeira filha. “Meu pré-natal foi muito tranquilo e, ao mesmo tempo, existia uma certa insegurança nas vezes que ia fazer o ultrassom. Isso porque tive uma perda gestacional com 5 semanas e meia. Era só insegurança, mas tudo caminhou muito bem!“.

Com 12 semanas de gestação, a mamãe Milena fez o exame de translucência nucal, feito durante o ultrassom para medir a quantidade de líquido na região da nuca do Feto. Deve ser realizado entre a 11ª e a 14ª semana de gestação. Este exame serve para calcular o risco do bebê apresentar alguma malformação ou síndrome, como a síndrome de Down. Quando estão presentes malformações ou doenças genéticas, o feto tem tendência a acumular líquido na região da nuca, por isso, se a medida da translucência nucal estiver aumentada, acima de 2,5 mm, significa que pode estar havendo alguma alteração no seu desenvolvimento.

Milena conta que após a realização deste exame foi lhe comunicada uma alteração na medida da nuca do bebê. “Essa alteração poderia existir por vários motivos. Foram me dadas duas opções: realizar um exame que se chama amniocentese, para detectar se existia alguma síndrome associada ao bebê, ou outro exame que se chama Nipt. Optei por Este. É um exame mais simples, não invasivo, que avalia o risco de doenças cromossômicas. É feito por exame de sangue. Quando chegou o resultado, veio negativo para todas as outras síndromes e sugestivo para a trissomia do 21 (Sindrome de Down). No momento que abri o exame e li o resultado, juro: ajoelhei chorando e agradeci a Deus por aquele momento. Estávamos cientes que poderiam ser síndromes onde o bebê poderia nem chegar a nascer! E era só a Síndrome de Down, ou seja, não era nada!”, conta emocionada.
A mamãe Milena conta que a gestação não foi até o final - normalmente termina com 40 a 42 semanas. “Sem nenhuma causa ou problema de saúde, inexplicavelmente, no dia 4 de julho de 2019, me levantei para ir ao banheiro e minha bolsa estourou com 25 semanas de gestação. Fui encaminhada para Ribeirão Preto, em UTI móvel. Lá, os médicos conseguiram segurar a gestação por mais 8 dias. No dia 12 de julho, Elisa resolveu vir ao mundo com 34,5 cm e 1,174 kg”.
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Milena diz que não teve resguardo. “Elisa nasceu e começou nossa maratona na UTI. Precisava ficar com ela para que ela soubesse a força que tem. Abria a portinha da incubadora, segurava sua mãozinha e rezava com ela todos os dias. Era uma dando força para a outra. Desconheço uma mulher mais forte e guerreira do que a Elisa. Luta todos os dias para superar todos os obstáculos que precisa. E supera!”.
Elisa, sempre acompanhada da mamãe, passaram 6 meses e meio em Unidade de Terapia Intensiva e, após esse período puderam, felizmente, voltar para a casa.
“Elisa voltou para casa fazendo uso de oxigênio, sonda nasogástrica e algumas medicações. Mas, a cada dia que passa, está mais forte! Cada dia ela nos surpreende com sua força e vontade de viver”.
Milena finaliza dizendo que é completamente realizada como mãe. “Agradeço a Deus todos os dias pela oportunidade de ser mãe da Elisa. Ser mãe de uma criança especial nos faz aprender que ser diferente é normal. Nos faz acreditar em um mundo melhor. A inclusão precisa existir. Elisa é nossa luz. Não se tinha uma explicação para o seu nascimento tão precoce até a morte do meu pai. Depois que ele faleceu, entendemos que Elisa nasceu antes da hora para que ele pudesse conhecê-la. E assim foi feito. Ela nasceu e meu pai a conheceu. Quando ela estava com 12 dias de vida, um infarto o levou. Hoje, vovô Zé olha e cuida da Elisa lá de cima”, concluiu essa mamãe muito especial.
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