O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, reeleito nas eleições deste ano, convidou no ano de 2020 o arquiteto mineiro Leônidas Oliveira, para assumir a Secretária de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. Com uma formação acadêmica admirável - é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela PUC Minas, possui mestrado em Restauração e Reabilitação do Patrimônio Histórico Arquitetônico e Urbano pela Universidade de Alcalá de Henares/Gregoriana de Roma, Itália, e é É doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Valladolid, Espanha. Ele também atuou como presidente interino da EMBRATUR e diretor-executivo da Funarte. Oliveira assumiu o desafio e tem desenvolvido um trabalho que tem colocado Minas Gerais, sua cultura e seu rico turismo entre os mais destacados do Brasil e do mundo.
A Revista Mídia conversou com o Secretário de Estado que falou sobre os desafios da pasta durante a pandemia, da importância das riquezas naturais, turísticas e culturais do Estado e que estará em Guaxupé para conhecer o Natal de Luz 2022. Acompanhe.
De que forma suas atuações como presidente interino da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) e de diretor-executivo da Fundação Nacional de Artes (Funarte) contribuíram para sua gestão frente à Secretaria?
Minha gestão na Embratur e Funarte foram fundamentais para uma experiência, respectivamente, de atuação internacional e nacional, podendo conhecer a diversidade dos temas, desafios e riquezas do Brasil com suas regiões tão singulares. Foram essas duas experiências na área da cultura e do turismo que hoje me ajudam a desenvolver o papel de secretário de nosso Estado acumulando as duas pastas.
Ao assumir, quais eram os maiores desafios e como vencê-los?
Os maiores desafios eram tanto aqueles relacionados ao contexto mundial que nos exigiu mudanças de pensamento e de atitude em razão da pandemia, quanto da própria natureza do nosso estado com 853 municípios. Nós precisamos nos reinventar em vários sentidos para que soluções em prol do bem-estar de todos, sejam eles cidadãos, artistas, trabalhadores da cultura ou do turismo, se tornassem possíveis. Minas Gerais possui regiões com necessidades muitos distintas, então poder estabelecer uma escuta capaz de ouvir essas demandas e desenvolver ações alinhadas com essa configuração certamente não é algo simples, e por isso mesmo muito estimulante. O “Descentra Cultura Minas Gerais” surge a partir dessa constatação e da necessidade de uma distribuição mais equilibrada dos recursos públicos advindos de editais, os quais historicamente acabam se concentrando mais na região metropolitana de Belo Horizonte. Ampliar essa cobertura para todo o território mineiro, inserindo as culturas populares e tradicionais, as festas regionais do estado, dentre outras expressões culturais e artísticas, se tornou necessário. É um objetivo constante democratizarmos o acesso às nossas políticas públicas para a cultura e o turismo.
O senhor pautou uma gestão técnica e descentralizada. Tem obtido êxito e quais são os resultados?
O resultado dessas ações está refletido nos números. Minas Gerais é o estado que mais cresce, gerando 120 mil empregos nos setores do turismo e da economia criativa até o momento. De acordo com a pesquisa mais recente divulgada pelo IBGE, o estado é o segundo destino mais procurado pelos brasileiros, o que mostra a importância de se destacar a variedade das experiências turísticas a partir da vocação singular de cada região e município. Aqui o turismo de aventura convive com o turismo cultural, predominantemente voltado para a apreciação do nosso patrimônio histórico, que se estende do barroco ao moderno e o contemporâneo, tendo como referência, por exemplo, Ouro Preto, Diamantina, Congonhas e o Conjunto Arquitetônico da Pampulha e o Instituto Inhotim. Temos também o Circuito das Águas, que atrai muitos visitantes interessados na qualidade medicinal das fontes hidrotermais. Os parques, as montanhas e a natureza exuberante traduzem esse sentimento de liberdade que marca Minas Gerais. Vale ressaltar o foco na valorização da cozinha mineira, que atrai visitantes do país e do mundo todo. Trabalhamos cada vez mais pelo seu reconhecimento, como a campanha internacional pela candidatura dos “Modos de Fazer O Queijo Minas Artesanal a Patrimônio Imaterial da Humanidade” é exemplo. O fato de crescermos acima da média nacional demonstra que estamos no caminho certo, ao posicionarmos o turismo e a cultura como os principais motores do desenvolvimento econômico. Contamos também com o apoio do Governo de Minas, por meio da parceria com a Secretaria de Desenvolvimento, e do próprio governador Romeu Zema. Ele dá estímulo para o fomento da cultura e do turismo, entendendo ambos como fatores importantes de identidade. Zema é um governador que tem um respeito pela tradição mas também a vanguarda e a liberdade como marca do seu trabalho.
Durante a pandemia, houve ações emergenciais. Quais foram elas e de que forma contribuíram com os artistas, a cultura e o setor de turismo – que ESTÃO ENTRE OS QUE mais sofreram com isso?
Uma das primeiras ações que apresentamos foi o projeto #ARteSalva. Ele foi realizado em parceria com o Sesc, em Minas, por meio do Programa Mesa Brasil, e órgãos do governo, como a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), a Secretaria de Saúde (SES-MG), o Servas, a Defesa Civil, BDMG, a Codemge e todo o sistema de Cultura do Estado. O projeto também contou com parcerias de empresas privadas, associações, entidades e coletivos da sociedade civil e universidades. Sua duração foi de junho a outubro, e beneficiou mais de 330 mil pessoas, com a distribuição de alimentos, cestas básicas, e auxiliando um total de 495 entidades. Foram mais de 500 toneladas de cestas básicas, 140 toneladas de alimentos, 15 mil máscaras e 1.386 livros. Nós também realizamos o lançamento de três editais emergenciais, somando o investimento de R$ 6 milhões em recursos diretos do Fundo Estadual de Cultura (FEC). Houve, em seguida, o processo de operacionalização da Lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020 – Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural. Minas Gerais recebeu mais de R$ 135 milhões que foram direcionados à elaboração conjunta de 27 editais que contemplaram diferentes áreas, como música, dança, circo, teatro, literatura, culturas populares e tradicionais, dentre outras. Além disso, em 2021, lançamos o Programa Reviva Turismo que buscou alternativas para o setor, um dos mais impactados em razão da pandemia, a partir do foco em quatro eixos: biossegurança, estruturação, capacitação e marketing. A nossa meta era gerar 100 mil novos empregos até o fim de 2022, o que alcançamos já no mês de setembro. Nosso objetivo é posicionar Minas Gerais entre os três principais destinos turísticos do Brasil, o que temos conseguido. Aliado a isso, fizemos a criação do selo “Evento Seguro”, que serviu de inspiração para outros 10 estados brasileiros, e capacitações de profissionais do setor, revisão de políticas públicas e promoção e marketing dos municípios, com o programa “Gerais + Minas”, que já tem 254 municípios mineiros listados para fazerem parte das produções audiovisuais que vão valorizar a cultura e o turismo, mostrando o que todas as nossas regiões têm de melhor.
Sobre “economia criativa” como o Estado fomentou esse segmento?
O fomento aos setores da economia criativa, como a promoção da cozinha mineira, tanto a clássica quanto a contemporânea, e o artesanato, tem sido uma importante frente de atuação da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo. Diversos investimentos em promoção turística vêm sendo direcionados a tais segmentos, porque eles não só contam a história do povo mineiro mas traduzem a própria essência da mineiridade que os turistas aqui podem experimentar e conhecer. A economia criativa está muito atrelada ao turismo. Por meio da atividade turística é possível atrair as pessoas que aqui consomem os produtos da economia criativa. E essa transversalidade entre Cultura e Turismo tem sido o eixo norteador de todas as ações da pasta, porque ela potencializa e une os dois setores. O turismo traz as pessoas, a cultura oferece as experiências que elas buscam. Sabemos que 42% do turismo em Minas Gerais é impulsionado pelo patrimônio histórico, e 30% pela cozinha mineira. Então, temos 70% de um turismo cultural e a isso somam-se o turismo de aventura, de paisagem, de natureza, o ecoturismo e o turismo rural. Por isso a importância de trabalhar essa conexão entre os dois setores para a geração de emprego e renda e desenvolvimento social.
Minas é um Estado abençoado por Deus e bonito por natureza. Em seus 4 cantos, há uma diversidade cultural, turística e gastronômica. Como o senhor tem explorado essas riquezas para que sejam referências em políticas públicas desTa oportuna união entre Cultura e Turismo no País e também no Mundo?
O destaque de Minas Gerais no cenário turístico nacional, como segundo estado mais procurado por turistas para viagens, em 2021 (dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE), reforçado pelo aumento de 45% no fluxo de passageiros nos aeroportos mineiros, coloca o estado e, de modo especial, sua capital, como um destino promissor ao cenário internacional. Vale destacar também que Minas Gerais é o Estado que mais cresceu no turismo no País, estando acima da média nacional. Como reforço estratégico nesta direção, encontram-se os investimentos da SECULT-MG destinados à promoção turística internacional do destino Minas Gerais. Estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas evidencia o ganho da ação, destacando que a cada R$ 1 investido em promoção internacional, R$ 17,60 retornam em impacto econômico positivo para o destino e R$ 1,35 retornam em tributos. O ano de 2022 também foi eleito o “Ano da Mineiridade”, o que criou um sentido maior de pertencimento, de amor à terra. Isso é fundamental para que as pessoas também amem e gostem da nossa terra, especialmente do que é original. Nós mostramos como a mineiridade pode ser estar na essência da experiência cultural e artística que os visitantes têm quando vêm Minas. A rota “Via Liberdade”, lançada em abril deste ano, também apresenta caminhos promissores e de grande oportunidade para o turismo em Minas Gerais, integrando o Estado com Goiás, Rio de Janeiro, além do Distrito Federal. Ela contempla sete patrimônios da humanidade, se consolidando como a maior linha de patrimônio que teremos no país. Além disso, possui mais de cem cidades que são patrimônio histórico do Brasil. O trajeto inteiro conta com cerca de 70% dos patrimônios históricos tombados do país. O convite e estímulo ao desenvolvimento, à geração de emprego e renda nesse setor, torna-se alguns dos maiores feitos da rota, baseado no amplo percurso da BR-040 em seus 1.179 quilômetros. As oportunidades para o turismo de experiência são muitas. Apenas em Minas Gerais, reúne 188 municípios nas 19 Instâncias de Governança Regional. Há inúmeros cartões postais, paisagens históricas, atrativos, espaços culturais e museus, que, na sinergia proposta pela rota turística, terão programações potencializadas pelas políticas públicas voltadas para a promoção do turismo, da cultura e da economia criativa. Com o objetivo de fomentar o destino Minas Gerais, a Secult lançou o edital Minas para Minas, Minas para o Mundo direcionado a Organizações da Sociedade Civil (OSC). O edital foi elaborado com enfoque em estratégias conectadas a parceiros-chave, as OSCs, para o fortalecimento da competitividade turística de Minas Gerais, por meio de ações de apoio à comercialização, promoção, estruturação e ordenamento de destinos turísticos mineiros. O objetivo é selecionar propostas que busquem divulgar, promover e diversificar o portfólio de produtos que apresentam o potencial turístico de Minas Gerais. Foram disponibilizados R$ 5 milhões de reais para o certame. E neste mês novembro estamos lançando a nova campanha “A Liberdade Mora em Minas” que vai direcionar as ações para o turismo e para a cultura a partir de 2023.
Fale-nos sobre os eventos internacionais realizados para promover Minas Gerais E Em quais países aconteceram?
No ano de 2021, foi lançado o programa “Minas para Minas, Minas para o Mundo” com o intuito de fortalecer o setor internamente e também internacionalizar o Destino Minas Gerais. Em maio deste ano, participamos da IMEX Frankfurt, que é uma das mais importantes feiras de turismo de negócios do mundo. Fomos também o primeiro estado a ter uma representação em Portugal, onde em setembro deste ano, fizemos uma ação alinhada com a comemoração do bicentenário da Independência do Brasil. Houve um Cortejo de Caretagem de Paracatu, no distrito de Belém, e uma turnê da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais com apresentações em Porto, Lisboa e Coimbra. Estivemos na WTM Latin América, em São Paulo, maior feira comercial do Brasil que em 2022 obteve recorde de público, com mais de 10 mil visitantes, trazendo muito da cultura mineira e nossas manifestações, além de ter ministrado capacitações ao público participante. Também participamos da Abav Expo, a maior feira de turismo do país, que aconteceu neste ano em Olinda, e da IMEX America em Las Vegas, nos Estados Unidos. Recentemente, apresentamos dois estandes na 34ª Festuris - Feira Internacional de Turismo de Gramado, sendo um mais focado na cozinha mineira e outro mais amplo chamando atenção para a próxima campanha lançada “A liberdade mora em Minas”. Ainda neste mês de novembro vamos participar da 17ª Sessão do Comitê Intergovernamental para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco, que acontece em Rabat, no Barrocos, entre os dias 27/11 e 2/12. A ideia é consolidar a apresentação da candidatura dos “Modos de Fazer O Queijo Minas Artesanal” a Patrimônio Imaterial da Humanidade. A ideia é sensibilizar o Secretariado Intergovernamental da Unesco acerca da importância modos de fazer o queijo Minas artesanal e realizar uma maior divulgação da proposta brasileira para o público participante e para a imprensa internacional. Esse título de Patrimônio Imaterial da Humanidade pode levar o nosso produto a outro patamar, favorecendo a atração de turistas interessados em conhecer de perto os modos de fazer o queijo artesanal de minas. Então, as fazendas vão poder oferecer essa experiência, movimentando a rede hoteleira e a atividade turística, o que reforça a imagem de Minas Gerais como destino mundial de gastronomia.
O Sul de Minas tem sido visto com um olhar mais atento pela Secretaria. Quais os planejamentos para esses próximos 4 anos?
A ideia é manter e desenvolvermos o trabalho que nós começamos. A partir do projeto “Secult no Município”, por exemplo, temos visitado muitas cidades do nosso estado, compreendendo melhor as diferentes realidades de cada uma. E é a partir desse contato que conseguimos ter novas ideias, exercendo um olhar que almeja estabelecer parcerias baseadas numa via de mão dupla. É não apenas levar os conhecimentos da capital para o interior, mas também trazer toda a riqueza e os saberes do interior para a capital. Isso se dá no intercâmbio de diversas ações, tanto nas áreas de cultura e do turismo, como exposições, cursos de capacitação, além dos editais públicos.
Guaxupé tem se destacado como polo cultural, gastronômico e turístico. Há um dos maiores Natais de Luz do Estado, um rico acervo patrimonial e histórico e, recentemente, o queijo árabe Shanklish se tornou patrimônio imaterial. A cidade ainda tem, na pessoa do ator Marcos Frota, o embaixador do turismo da cidade. Como o senhor avalia essas ações?
Guaxupé demonstra ser uma cidade cuja história é singular e, mais uma vez, reforça a diversidade de Minas Gerais. Ter o queijo árabe Shaklish fabricado no município reconhecido como patrimônio imaterial é uma maneira de preservar uma tradição que se mantém por gerações e compõe o mosaico cultural da região. Valorizar os legados de imigrantes de origem árabe, o trabalho desenvolvido no Natal de Luz, ou mesmo a representatividade de seus cidadãos, como o ator Marcos Frota, são importantes aspectos que nos convidam a conhecer e saber mais sobre a cidade.
O senhor tem sido elogiado por estar presente em praticamente todos os municípios mineiros e conhecendo “in loco” toda essa riqueza. Como essa estratégia colabora para a elaboração de políticas públicas?
Nós criamos o programa Secult nos Municípios justamente com esse intuito. Andamos cerca de 10 mil km por mês, identificando as riquezas, as transformações, a história de cada cidade, fomentando o turismo, reunindo com representantes da cultura e do turismo e, sobretudo os desafios que temos para contemplar essa pluralidade. Queremos que nossos editais e políticas públicas cheguem a todo o estado de Minas Gerais e, para chegar no interior, temos que falar a linguagem do interior. Temos que contemplar as festas da igreja, de aniversário da cidade, festivais de comidas e bebidas, festas folclóricas. Todas as manifestações que traduzem a cultura das cidades mineiras. Se não chegarmos aos municípios e falarmos a linguagem das pessoas e dos povos, não estaremos fazendo cultura pública.
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