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Da Redação

EUCIR DE SOUZA MANIFESTA SEU TALENTO COMO DIRETOR ARTÍSTICO


O ator e diretor guaxupeano Eucir de Souza (Foto: Brina Costa)

Rosângela Felippe, jornalista


O período pandêmico não o afastou dos tablados. A sentença do confinamento que poderia lhe causar desânimo deu-lhe motivação para se entregar com mais avidez às artes cênicas. E graças aos recursos online, Eucir de Souza vem desempenhando atividades múltiplas a favor do teatro: roteirizar, dirigir e representar.


Um trabalho após o outro é o resultado de tanto empenho. A voz do reconhecimento pela sua aptidão não tem se calado. Seu maior desafio tornou-se encontrar tempo para o cumprimento de todas as propostas recebidas por equipes do alto escalão da arte dramática. E ele consegue realizar com plenitude. Enfim, o palco é o seu reino.


Assistindo, a convite dele, a um dos ensaios de “Perdidos Numa Noite Suja”, autoria de Plinio Marcos, pude conhecer o Eucir diretor. Até então, admirava e torcia pelo ator e amigo. Porém, foi espantoso ver seu comando diante de cada gesto dos atores. Descobri um incansável explorador de sentidos, de mensagens e de aprimoramento. Qualquer autor se orgulharia de sua obra ao vê-la tão bem valorizada e enriquecida por um profissional como ele.


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Surpreendeu-me, também, sua fascinação pelo local onde aconteciam os ensaios: Um centro de inclusão social pela arte, trabalho e educação voltado a pessoas em situação de rua (Cisarte). Um local, cujo propósito, é o dever em apoiar os menos favorecidos pela sorte.

O lugar, embaixo de um viaduto no centro da capital paulista, foi outrora um albergue. Sobre o teto de cimento passam milhares de carros e pessoas. E sob o chão, estende-se a Avenida 23 de maio, uma das mais movimentadas de São Paulo.


Alí não há um rastro sequer de luxo. Há, sim, um afortunado poder de dedicação ao próximo. E Eucir de Souza soube dar valor a esse espaço onde muitos, certamente, torceriam o nariz. Recebeu com respeito os freqüentadores do lugar convidando-os a assistir aos ensaios. Era importante para ele ouvi-los e observar como reagiam diante dos personagens inspirados na vida miserável em que eles próprios vivem. Com isso, Eucir fez da realidade o cenário.


Como ser humano, diretor e amante do teatro, ele enxergou no ambiente o maior objetivo de Plinio Marcos que, antes de escrever a peça, conviveu com moradores de rua para melhor expressar na trama o gemido dos excluídos pela sociedade. Foi como uma parceria fiel e devotada entre o autor e o diretor interligados pelo magnetismo da arte: Cada qual em sua esfera, terra e espaço sidéreo, unidos em harmonia e cumplicidade.


Diante disso, descobri o lado mais vigoroso da obstinação de Eucir pelo teatro. Tornei-me membro da equipe atraída pela luz rala do palco, mas intensa pela criatividade infinita de quem faz o que realmente ama sem preconceitos e sem restrições de valores inúteis. É a habilidade de Eucir se jogar nas páginas de um drama forte e tão distante do fim.


Teatro online. Um formato de apresentação intensificado no período da pandemia com as casas de espetáculos fechadas ao público. Você aderiu ativamente ao gênero como ator, diretor e roteirista a convite de grupos e produtores teatrais. Os resultados abriram-lhes outras portas para o trabalho de direção. De agora em diante, o diretor seguirá nos palcos em paralelo com o ator?

Apaixonei-me pelo teatro online, ou digital, ou... talvez ainda ganhe outro nome. Acho uma linguagem muito interessante, cheia de particularidades, um campo vasto para estudar muito. Aderi! Você usou um bom verbo! Já tenho novas ideias em andamento, com grandes chances de virar um projeto e uma peça. Algumas que já foram feitas, também ainda farão novas temporadas e apresentações em festivais. Sempre gostei de dirigir também. O isolamento proporcionou o tempo necessário para pensar, ir atrás das pessoas para formar uma equipe, ensaiar, produzir, apresentar. É um processo relativamente longo, com muitas etapas. Mas quero seguir dirigindo, sempre que possível sim, em paralelo com o trabalho de ator.


Você estava dirigindo uma das obras mais célebres de Plínio Marcos: “Dois Perdidos Numa Noite Suja”. Porém, com o advento da pandemia, houve uma pausa nos ensaios. Após tantos meses com o trabalho interrompido, você acredita que, ao retomá-lo, manterá o mesmo tom de onde parou?

Como estava ficando bom esse trabalho. Aqui você pode falar tanto quanto eu. Uma honra ter você nesse trabalho de criadores tão talentosos e generosos. Foi estranha a pausa, sem dúvida. Por mim teria seguido online para ver no que dava, mas senti que a equipe queria parar. Dirijo assim, com os olhos e os ouvidos. Tento sentir o desejo do coletivo. Mas sem dúvida muitas mudanças virão. A peça é célebre, como você bem disse, e não é à toa. Novas camadas e novas possibilidades emergem sempre, neste caso, teremos uma mudança no elenco. São dois atores e apenas um continua, o que, na forma como trabalho, muda tudo, porque considero a criação de um personagem algo pessoal e intransferível. Mas mesmo se não fosse por isso, o mundo passou por um choque, profundas mudanças, levamos uma sacudida. Isso vai fazer parte da obra a partir de agora. Ainda vamos voltar ao espaço, sentir... mas será, sem dúvida, muito diferente.



Para montar “Perdidos Numa Noite Suja”, você descobriu um espaço singular para os ensaios embaixo do viaduto Pedroso, no centro da cidade de São Paulo. Trata-se de um antigo albergue que hoje atua como ponto de apoio a muitos moradores de rua (Cisarte). Fale como é dramatizar uma dura realidade social no palco desta própria realidade.

Foi surpreendente quando este espaço apareceu no nosso caminho. Estávamos buscando um local para ensaiar e fomos parar lá, na região central da maior cidade do país, num canto de um viaduto onde havia uma escada. Ao descê-la, deparamo-nos com um outro mundo com salões onde funcionam uma cozinha, uma sala de TV e vídeo, escritórios, oficinas variadas, sala de internet. O trabalho que a Cisarte (espaço de inclusão para população em situação de rua) faz é sério e dedicado. A equipe de supervisores acredita que, enquanto as pessoas em situação de rua estão lá, ficam menos expostos aos vícios e à violência. Também tenho fé. Observamos que, além dos espaços e dos frequentadores que evocavam Plinio Marcos e o seu universo, havia uma exposição de bonecos, muito humanos, muito vivos, feitos em papel mache, que depois viemos a saber, haviam sido confeccionados por moradores de rua, que os criaram a partir de suas lembranças, guiados pelo artista plástico Helder Oliveira. Havia muitos deles ali e, numa sala a parte, isolados, dois deles deitados lado a lado nas suas camas, tal qual os personagens da peça (Paco e Tonho). Foi um choque! Apesar da triste constatação de que a situação só piorou da época em que a peça foi escrita para hoje, realmente o lugar é perfeito.


“Tormento”, baseado na obra do escritor francês Jean Paul-Sartre intitulada “Entre Quatro Paredes”, foi um de seus trabalhos online recentes como diretor e roteirista. Após algum tempo em mente, você pôde, enfim, concretizar esse projeto. Relate a experiência de realizar, além da direção, a adaptação de um texto de tamanha magnitude sem fugir de sua mensagem ricamente espantosa.

Desde o inicio da pandemia, “Entre Quatro Paredes” estava sempre em minha mente. As pessoas trancadas, tendo que olhar para si mesmas e para as pessoas de sua convivência. No atual confinamento, “o Inferno são os outros”, como disse Sartre. Mas também, é você mesmo e suas escolhas, de todas as ordens. O aumento da violência doméstica foi assombroso. Fiquei pensando também que muito da negação que muitas pessoas apresentam vem da necessidade de se fugir da obrigação, de se olhar no espelho. Não tem como escapar de ver o resultado das escolhas que fizemos até esse momento, individual e coletivamente Então, ainda sem nenhum recurso, decidi reunir artistas que admiro e fazer uma leitura do texto. Juntei-me a Fernanda Viacava, Marcio Mariante e Rosana Stavis, performers que considero impressionantes além de serem meus amigos queridos. Apesar da obra seguir atual e perspicaz, pareceu-nos que hoje a situação se aprofundou e adquiriu cores bem mais fortes. Então, deixamos o texto ecoar e partimos para improvisações. Neste momento já estava com a gente o André Grynwask, artista visual que tem um olhar preciso, profundo, comprometido e que dividiu comigo a direção. Os atores foram criando seus personagens partindo de criaturas que estão aqui entre nós hoje e que consideramos infernais. Mas muitas outras camadas foram surgindo e mesmo essas referencias se diluíram. Estudamos e trouxemos para nossa prática diversas linguagens corporais, verbais e audiovisuais. E do jogo entre tudo isso e da relação entre essas três figuras, foi surgindo “Tormento”. Acho que o resultado é quase que uma revista dos nossos macabros tempos. Então, surgiu a oportunidade oferecida pelo edital ProacLab. Assim, teríamos, além de todo o prazer, algum dinheiro para realizarmos nossa obra. Então chegou a peça que faltava, a produtora Eneida de Souza. Inscrevemo-nos e fomos contemplados. Fizemos uma temporada de oito apresentações em que tivemos uma resposta bem positiva por parte do público. Alguns inclusive assistiram a peça mais de uma vez. Então penso, pretensiosamente, que dialogamos com nosso presente, mas a mensagem está lá.


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Também sobre “Tormento”, a obra trata-se de uma visão sobre o inferno.Como você organizou na mente essa atmosfera angustiante antes de descrevê-la em texto? Em outras palavras, de que forma o inferno o inspirou?

Pensamos juntos na possibilidade de que as coisas não mudem tanto assim, que sigamos exatamente como estamos após a morte. Na possibilidade de não haver outra mudança, além de perdermos o corpo físico. Hoje em dia, as pessoas não tem mais medo nem vergonha de serem monstruosas, elas fazem questão de se mostrar, em toda sua maldade, nas redes sociais, na TV, nas suas casas, nas ruas. Então nosso inferno é a pessoa estar trancada, não poder fugir de si mesma e dos seus horrores, e estar conectada a infinitas reuniões online. Na nossa escolha é uma única reunião de onde eles não podem sair. Assim, além de si mesmos, o que já seria inferno suficiente, cada um deles tem que lidar com outras duas pessoas do mesmo nível. Nossos personagens são egoístas, mesquinhos, maldosos, desonrados, capazes de tudo. Então o inferno acontece. As inspirações originais se diluíram, porque foram adquirindo novas armas, mais maldades. Eles também nos contam cenas infernais de sua antiga vida na terra. Qualquer semelhança com os tempos atuais não é coincidência.


“Semente”, obra germinada também na terra áspera da pandemia que contou com sua notada direção. Revele a essência deste trabalho.

Stella Tobar, além de ser uma artista que admiro, escritora e atriz, também é uma amiga muito querida. A ideia de dirigir a peça surgiu de um encontro na minha casa, tomamos um café e falamos sobre fazer algo juntos, para ficarmos juntos, porque como basicamente só trabalhamos, não temos tempo de estar com os amigos que amamos. Ela me falou desse texto, ofereci-me para dirigir e ela topou. A principio seria um espetáculo presencial, no palco do teatro. Veio a quarentena e quando entendemos que ela duraria muito, principalmente pelas condições em que estamos no nosso país, decidimos nos encontrar on-line para falarmos sobre o texto. Percebemos, então, o potencial que ele tinha dentro desta linguagem. Chamamos uma equipe dos sonhos para se juntar a nós e eles toparam. Também com o apoio do prêmio ganho através do ProacLab, conseguimos realizar o espetáculo. Fiquei bem satisfeito com o resultado. A artista se revela aos nossos olhos em toda sua potencialidade, como grande escritora e atriz que é, mas também em sua intimidade de mulher, de mãe, de dona de casa. Foram surgindo diversas mulheres, com tons e cores variadas, todas sendo parte de uma única. Para mim, foi a tradução ideal para o texto. Tudo o que aconteceu, a performance, os cenários que foram surgindo dentro do apartamento da Stella, a luz, tudo era muito sinceramente ela. O que penso que tornou essa mulher representante de muitas, de cenas e sensações de muitas. A essência deste trabalho é ela e o meu amor e admiração por ela e pelos artistas que se juntaram para fazer essa obra.


“Vida de Concreto”, o envolvimento de uma mulher com a opressão provinda do machismo e do preconceito social pelo fato de simplesmente ser mulher. Vídeo clip musical que soma mais um ponto em sua criatividade como diretor. Caracterize com palavras este trabalho também desenvolvido no período da pandemia.

Vida de Concreto é o nome da música da cantora e compositora Brina Costa, outra amiga que amo e artista que admiro. Tenho gostado de estar com quem eu me identifico nesta época. Na verdade, esta foi minha primeira direção na linguagem audiovisual. Inspirado na letra da música, fiz uma pesquisa e acabei encontrando vários casos de emparedamento humano, pessoas que foram fechadas vivas por paredes levantadas aos seus olhos, por motivos religiosos, passionais, políticos e outros. Propus que ela passasse por isso, ela topou, com muito medo e angustiada, mas topou. Filmamos já faz alguns anos, na época penso que a radicalidade e a crueza do evento que eu propus e realizamos foi indigesta. Todos saímos de lá um pouco estranhos. Não há mentira, ela realmente é fechada por uma parede aos nossos olhos e as câmeras acompanham, dentro e fora do cubículo onde ela é confinada. O material ficou guardado por um bom tempo. No ano de 2019 a artista concebeu um show, e voltou a estas imagens, editou e as transformou em um vídeo clipe que era exibido quando ela apresentava a musica ao vivo. O público reagiu e eu já fiquei bem feliz. Acho que talvez agora, nestes nossos tempos, mesmo aquele evento inacreditável de tão triste já não é tão improvável. Temos visto paralelos tão radicais quanto e é o que chamamos de vida real. Então a Brina me procurou para que lançássemos. Gosto do resultado. Acho machista, indigesto, violento, triste, difícil de acreditar, mas possível e real.


Música e teatro para você são elementos que se acoplam perfeitamente. Em seu trabalho, um notabiliza o outro potencializando a sua sensibilidade como artista. O que mais pode ser citado como suporte de sua tarefa com a arte cênica?

Como ator sou meio destemido. Não me apego a rótulos nem a linguagens. Não tenho medo de jogar fora tudo o que sei, tudo que aprendi como bom e verdadeiro e buscar o novo, lançar-me numa viagem ao desconhecido. Na verdade, meu maior foco e prazer como artista se tornou em criar algo sempre novo. Gosto de linguagens hoje que não gostava em absoluto no passado. Assim me sinto vivo e sempre em processo. Tenho uma imagem que me norteia, no Tibet, os monges budistas constroem mandalas imensas, lindas, coloridas, perfeitas. Algumas vezes são feitas de areia, eles as contemplam por um breve momento e assopram. Outras vezes as fazem com farinha de arroz colorida, então, quando concluem o imenso trabalho convidam os bovinos para comê-las. Assim eles exercitam a impermanência. No meu trabalho como diretor isso se intensificou. Costumo dizer que trabalho com os ouvidos e com os olhos e alguns dos meus colaboradores, gentilmente e para caçoar, dizem que eu não crio nada, só organizo. Para mim é um elogio. No caso da musica que você citou, por exemplo, tive para o espetáculo “Semente” a sorte de contar com a brilhante criação do músico Sérvulo Augusto. Ele concebeu uma trilha inédita para o espetáculo, por sua vez baseada nas palavras do texto da Stella. Todo mundo fala, todo mundo se coloca, penso que o melhor resultado para uma obra é aquele onde todos os envolvidos se sentem plenamente satisfeitos com o resultado. Acho que o público sente isso quando tem acesso ao resultado final. O resultado são obras absolutamente diferentes umas das outras. “Vida de Concreto” é um clipe musical, Tormento tem um trilha sem música, construída com efeitos sonoros propostos pela Rosana Stavis. Eu dou a última palavra, mas estou aberto aos impactos. Pode ser o oposto do que sugeri, se for bom, fica.

Além de sua atuação como diretor teatral, haverá um tempo em que a televisão e o cinema também contarão com sua habilidade com a direção?

Aí você já está lendo meus pensamentos. Tenho desejos sim. Desenvolvi um roteiro pra cinema, do qual gosto muito, e que pretendo, algum dia, filmar. Na TV é uma posição complexa tecnicamente, de muita responsabilidade e, ao mesmo tempo, muito concorrida. Mas quem sabe. Na verdade, por sorte, trabalho essencialmente em projetos de outras pessoas, tendo pouco tempo para desenvolver os meus projetos pessoais. As obras que dirigi e consegui levar a cabo, apresentar ao público, são resultado da pausa forçada que todos estamos passando por conta da pandemia. Para mim foi um tempo para cuidar destes projetos, além de ter tempo para olhar para mim mesmo de forma mais cuidadosa. Então várias oportunidades surgiram nesse sentido. Se não fosse a tragédia pela qual estamos passando, diria que esse período de quarentena foi ótimo.

Pelo seu olhar, após a pandemia o teatro online manterá a robustez que desenvolveu nos últimos tempos?

Na verdade, não consigo muito imaginar ainda o que será o mundo. Parece-me que será uma volta gradativa e algumas coisas não voltam mais. O mundo está pedindo mudanças também, está claro, mas quais vão acontecer não sabemos. Especificamente essa linguagem acho que fica. Penso que ela naturalmente surgiria, mas a situação atual acelerou a produção que, por sua vez, acelerou a evolução técnica. Temos já observado um público que não tem hábito de ir ao teatro se interessando por esse formato. Mas acho que a produção deve diminuir, se diluir. Pode até despertar o interesse pelo teatro presencial, porque o evento é diferente, mas paralelo. Talvez surja até um nome definitivo para esse tipo de apresentação. Teatro realmente não é, porque é insubstituível a presença física, nada se compara. Mas é uma outra coisa muitíssimo interessante também. A intimidade do artista fica mais aflorada e visível. Muitas vezes ele está na sua própria casa e produz o próprio cenário e figurino, a própria luz. É um outro estado, de um relaxamento diferente de estar num palco, ou num cenário de cinema, que é real mas não é seu ambiente natural. O buraco da fechadura sempre atraiu as pessoas. Nesse sentido essas obras até se relacionam um pouco com os reality shows, com as revistas de fofoca. É um outro jeito de ver o artista. Temos público para tudo. Importante mesmo é focar em produzir algo que comunique, que transmita a ideia e a energia do trabalho. As duas peças que fiz ficaram melhores dentro dessa nova linguagem, uma delas só se tornou possível graças a ela. Vamos querer fazer mais.


Eliézer é seu atual papel em telenovela pela Rede Record, na apresentação de “Genêsis”. Após dar vida a Caifás, um temível sumo sacerdote na novela “Jesus”, qual a sensação de agora viver um personagem leal e de coração límpido?

Saber da existência de pessoas assim é um conforto para a nossa alma. Ainda maior é o privilégio de poder me aproximar da energia, do pensamento, das ações de uma pessoa assim. Eliézer exercita a gratidão, a bondade, a fidelidade, a honestidade, a compreensão. Nunca se corrompe. É uma sorte, uma felicidade praticar um olhar como o que ele tem para o mundo. Mas os vilões são divertidos, bom também poder fazer tanta maldade e não fazer ao mesmo tempo. Só precisamos ficar atentos para saber olhar de fora, para não absorver aquele comportamento, levar pra vida só a lição. No fundo, os dois ensinam igual.


Outros trabalhos já estão em andamento. Já podem ser revelados ao público?

Sim, tem dois filmes de longa metragem que devem estrear ainda este ano, assim imagino, porque depende da liberação dos locais de exibição, dos festivais, das estreias em circuito comercial. Então, acho melhor não adiantar nada por enquanto. Deve estrear, também, uma série de TV gravada antes da pandemia. Em breve divulgo os nomes, onde assistir e tudo. Agora, está em cartaz pelo www.teatrounimed.com a peça 10x10. São dez monólogos de dez minutos, escritos pelo dramaturgo e cineasta americano Neil Labute, interpretados por excelentes atores e dirigidos pelos irmãos Leme. Está muito bom. Tem uma nova peça online nascendo também, mas bem no começo. E a cabeça e o coração estão fervendo de vontade de dizer tanta coisa. São muitos acontecimentos todos os dias que pedem para ser retratados de alguma forma. Tornei-me artista pela dificuldade na comunicação, ao contrário do senso comum de que os que ingressam nessa carreira, o fazem por serem espontâneos e desinibidos. Eu fui procurar o teatro porque, literalmente, não conseguia falar e ele se tornou meu meio de comunicação com o mundo.

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