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Da Redação

Efeitos da pandemia do coronavírus no setor cafeeiro


Os efeitos da crise desencadeada pela Covid-19 ainda não foram sentidos tão fortemente no setor, mas é importante que todos estejam atentos. A maior preocupação agora é com a colheita, prevista para iniciar no mês de maio, uma vez que a disponibilidade escassa de mão de obra poderá se tornar um problema, embora boa parte já seja mecanizada. Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil, representando 53% da produção, sendo que a metade dela passa por uma cooperativa agropecuária do Estado. São 54 cooperativas mineiras que comercializam café e também estão sendo impactadas pela pandemia, seja pela especulação nas bolsas de valores, seja pela variação da cotação do dólar ou por instruções sanitárias de combate ao coronavírus aos produtores e seus funcionários. O presidente da Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais (Coccamig), Leonardo Brandão, revela que devido às medidas de prevenção ao vírus, “muitas cooperativas tiveram diminuição das operações nas lojas agropecuárias, contudo não houve paralisação total”. Ele menciona também que a atual crise fez com que as cooperativas buscassem novas alternativas para atender aos cooperados, assim como comercializar os produtos. “Algumas estão criando canais, websites, aplicativos, dentre outros meios para diminuir os impactos”. Porém, ele destaca o fato de grande parte dos produtores não apresentarem meios de acesso para utilização dessas tecnologias, contando, muitas vezes, com o apoio dos filhos ou netos nesse sentido. “Apesar das dificuldades que enfrentamos nesse período de crise, acredito que os produtores devam se unir para que juntos possamos tirar soluções que possam agregar a todos”, concluiu.


O setor continua produzindo e reforçou a adoção de boas práticas visando à saúde dos produtores e funcionários. Recentemente, a Faemg lançou uma cartilha com orientações para a colheita, ressaltando os cuidados a serem adotados pelos produtores rurais. Entre as principais orientações estão: a criação de estratégias de triagem para identificar pessoas com sintomas do vírus por parte dos municípios, disponibilização de água limpa e sabão para higienização das mãos dos trabalhadores sempre que necessário no campo; pagamento escalonado para evitar aglomerações; a não contratação de trabalhadores pertencentes ao grupo de risco; distanciamento de um metro entre as mesas nos refeitórios e a mesma distância entre os trabalhadores na colheita; não compartilhamento de ferramentas e equipamentos; preferência à colheita semimecanizada; higienização diária dos veículos de transporte e alojamentos, que devem ser ventilados e alojar camas com, no mínimo, um metro de distância; além de iniciar a colheita, preferencialmente no mês de maio.


Embora o setor cafeeiro não esteja paralisado com a pandemia da Covid-19, os reflexos do coronavírus afetam as commodities internacionais nas bolsas de valores. Em entrevista ao site G1, no dia 14, o superintendente da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer), Simão Pedro de Lima, explica que o mercado do café está sofrendo com as especulações por ansiedades econômicas e este fato interfere diretamente nas bolsas de valores. O ponto positivo é que a oscilação cambial, elevando o preço do dólar em relação ao real, resulta em uma elevação geral de todas as commodities, dentre elas o café. Simão ainda mencionou que “o preço baixo do petróleo também tem influenciado no valor do café, pois quem opera em bolsas busca por commodities mais estáveis”, explicou. Em relação à colheita, embora tenha percebido um atraso em decorrência do coronavírus, inclusive com orientação que seja feita a partir de maio, a expectativa dos produtores é de uma grande safra. Mas Simão pondera, ao afirmar que uma safra boa pode afetar no preço, sobre a grande oferta com uma demanda que não se consegue suprir, ocasionando a queda nos preços. De toda forma, o produtor de café tipo arábica está ansioso para que a saca permaneça na faixa dos R$ 550, enquanto o produtor de café tipo robusta torce para que permaneça acima dos R$ 300.






O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Guilherme Soria, afirmou no dia 15 que o Brasil já comercializou um terço da safra 2020/2021 de café arábica. É o maior nível de comercialização antecipada no período 2020/2021, entre as demais commodities agrícolas brasileiras. Especialistas na área vislumbram que a tendência é que o mercado do café continue apresentando preços instáveis em decorrência da pandemia e da escassez de café no mercado mundial neste momento de entressafra que tem influenciado positivamente na manutenção dos preços na bolsa de Nova York. Porém, o café tipo arábica foi o que sofreu maior alta, com uma valorização de mais de 40% no valor pago por saca de café. Já o robusta permaneceu estável ao longo do período analisado, conforme dados apresentados pelo boletim Agromensão, divulgado em abril pelo Centro Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP).


De acordo com dados apresentados no boletim Agromensal, os preços do café arábica sofreram as maiores altas devido ao aumento da demanda no mercado externo e a forte alta do dólar, além também do aumento da demanda no mercado interno. Em março, a média do dólar foi de R$4,892 - aumento de 12,9% em relação a fevereiro. No dia 27 de abril, a moeda americana fechou cotada a R$ 5,664. Desde que foi decretada a pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 11 de março, o dólar já sofreu um aumento acumulado de mais de 11% em pouco mais de um mês. Tal movimento vem influenciando positivamente o preço do café ao produtor, conforme demonstrado no gráfico.


A commodity café teve valorização em função das preocupações com restrição de oferta, dos possíveis impactos da pandemia no abastecimento mundial de café e da demanda pelo grão. Segundo o boletim Agromensal, mesmo com o fechamento de restaurantes, lanchonetes e cafeterias, a demanda por café aumentou na maior parte dos países consumidores, inclusive no Brasil. A preocupação dos produtores, no entanto, está relacionada à logística para levar o grão até o produtor final, já que houve redução de caminhões na malha rodoviária brasileira e de contêineres disponíveis para exportação. Tudo isso somado ao fato de estarmos no período de entressafra, no qual a oferta do produto é menor.


Cooperativas dão exemplo no combate ao coronavírus


A Minasul, segunda maior cooperativa em exportação de café do país, localizada na cidade de Varginha, fechou parceria com as prefeituras de Varginha e Nepomuceno no combate ao Coronavírus. A cooperativa doou bombas costais com os equipamentos de proteção individual (EPI’s), além de solução de hipoclorito de sódio e quaternário de amônio, para a pulverização de ruas e pontos locais de maior concentração de pessoas nas cidades.


Segundo o presidente da cooperativa, José Marcos Rafael Magalhães, a Minasul está junto com as autoridades nas ações de redução da transmissão do coronavírus e estendeu as ações também ao setor privado. “Estamos fazendo a nossa parte, com pequenas ações, mas com boa vontade de todos, poderemos atravessar esta crise com mais tranquilidade e menos sacrifício para toda população. Temos a certeza de que sairemos fortalecidos", disse. O foco da cooperativa tem sido valorizar o trabalho do cooperado e seus produtos, buscando as melhores opções para que os produtores obtenham rentabilidade para no negócio. “Hoje temos mais de oito mil cooperados, estamos trabalhando constantemente para atender às necessidades deles. Mas, neste momento, nosso dever é também com toda a sociedade”, concluiu o presidente.


No dia 02 de abril, a Cooxupé anunciou a distribuição de 10% das sobras do exercício de 2019, o equivalente a R$ 14,4 milhões, aos cooperados de acordo com a proporção das operações realizadas com a cooperativa no período. O pagamento começou a partir do dia 06 e a previsão é de que os cooperados decidam, em Assembleia, ainda sem data agendada, sobre mais 20% das sobras, que totalizarão R$ 28,9 milhões. O presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, relatou ao site Café Point que essa determinação foi aprovada pelo Conselho de Administração com o intuito de reduzir os impactos negativos aos seus cooperados. "Estamos atentos às necessidades dos nossos cooperados e buscando atendê-los em todas as áreas da cadeia produtiva, com soluções para o benefício de todos. O momento é de união para que continuemos a cuidar um dos outros, seguindo a vocação cooperativista", disse.


A cooperativa Coocafé também colocou em prática uma série de medidas preventivas em relação à pandemia. Segundo o presidente, Fernando Cerqueira, toda a área administrativa da cooperativa está realizando o trabalho remoto e os colaboradores do grupo de risco foram liberados. As lojas estão abertas com limitação de atendimento e um canal exclusivo para o produtor foi criado para realização de vendas através de delivery. Um comitê de crise multidisciplinar foi instalado e as reuniões do conselho estão sendo realizadas por videoconferência. A maior preocupação da cooperativa é com relação a colheita, que terá início em maio e tem uma janela de duração de 90 a 120 dias. Por isso, a Coocafé lançou o Manual com Boas Práticas para a Colheita de Café. O objetivo é contribuir ainda mais com a segurança dos associados e trabalhadores rurais. O material foi elaborado pela equipe técnica da cooperativa, com avaliação e validação do comitê interno que tem acompanhado toda a situação.

Fonte: Gerência de Desenvolvimento e Monitoramento de Cooperativas do Sistema Ocemg


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