Dr. Márcio Costa
Dra. Andréa Nehemy
Diabetes é uma doença crônica que ocorre devido a uma deficiência do corpo em absorver a glicose (açúcar) presente no sangue. Em uma pessoa normal, o hormônio chamado insulina regula a quantidade de açúcar no sangue promovendo sua absorção, mas em pessoas com diabetes, esse hormônio é produzido de forma insuficiente ou não é corretamente utilizado pelo organismo. Assim, ocorre um aumento dos níveis circulantes de açúcar, o que pode acarretar sérios danos em vários órgãos e sistemas do corpo humano.
Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 220 milhões de pessoas são atualmente afetadas pelo Diabetes Mellitus (DM), sendo que esse número pode duplicar até 2030.
Em geral, o diabetes pode ser classificado em tipo 1 e tipo 2. O primeiro é caracterizado pela deficiência na produção de insulina pelo organismo levando a necessidade da aplicação diária de insulina. O tipo 2 ocorre pela incapacidade da insulina em exercer adequadamente seus efeitos - corresponde a cerca de 90% dos casos de diabetes.
O diabetes se caracteriza por um estado de altas taxas de açúcar em jejum e a suspeita da doença ocorre com o aparecimento de alguns sintomas como: urina em excesso, sede, fome constante, perda de peso, alterações visuais e fraqueza. Além das complicações normalmente atribuídas à doença, há sérios danos no coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos.
O diagnóstico pode ser confirmado através de um simples exame de sangue que mede o açúcar circulante e o tratamento, com insulina ou hipoglicemiante oral, depende do tipo de diabetes e do controle da taxa de glicemia no sangue. Ressalta-se, ainda, a necessidade do controle da hipertensão arterial sistêmica, dieta, exercícios físicos e o risco do tabagismo.
RETINOPATIA DIABÉTICA
A retinopatia diabética é a causa mais frequente de cegueira nos países industrializados entre as populações ativas e ocorre como resultado do dano, acumulado a longo prazo, aos pequenos vasos sanguíneos da retina. Acomete quase todos os pacientes com diabetes tipo 1 e mais de 60% dos pacientes com tipo 2.
O tempo de evolução do diabetes e o controle glicêmico são os principais fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento da retinopatia. A prevalência de retinopatia diabética após 15 anos pode chegar até 90% entre os pacientes portadores de diabetes. No entanto, outros fatores como a hipertensão arterial sistêmica mal controlada, tabagismo, acometimento renal e gravidez devem ser lembrados.
As altas taxas de açúcar circulantes levam a diversas alterações nas paredes dos vasos sanguíneos, principalmente naqueles presentes nos rins e olhos. Assim, com a evolução do diabetes, essas alterações vasculares tendem a progredir, levando a sérias complicações em diversos órgãos e sistemas do corpo.
A retinopatia diabética apresenta vários estágios na sua evolução. Inicialmente é leve, mas se não tratada adequadamente, pode progredir para cegueira irreversível. Em fases mais tardias e severas da doença, pode ocorrer hemorragia intraocular, descolamento de retina, catarata e glaucoma.
O tratamento com laser, amplamente utilizado nessa condição, tem como objetivo evitar a piora da acuidade visual e a progressão da retinopatia para estágios mais graves. Em geral, podem ser necessárias várias sessões de laser até que se tenha um bom controle da doença ocular.
A cirurgia da retina, chamada de vitrectomia, geralmente é utilizada para se tratar as complicações mais severas e tardias da retinopatia, como a hemorragia intraocular e o descolamento de retina.
Recentemente, uma nova classe de drogas tem sido amplamente utilizada para o manejo de pacientes com esta doença em estágio avançado e baixa visual: o Lucentis e o Avastin. Essas drogas são injetadas diretamente no olho e têm o intuito de evitar a progressão da retinopatia, além de promover a melhora da visão e de algumas complicações relacionadas.
Todas essas opções de tratamento são utilizadas conforme o grau de severidade do acometimento ocular pela doença e visão do paciente. Para casos leves, apenas o laser pode ser suficiente para o controle, mas em casos mais avançados, podem ser necessárias a combinação de diferentes formas de tratamento para uma melhora visual.
Durante o tratamento dos olhos é essencial o intenso controle da glicemia para promover uma melhor resposta ao tratamento. Lembrando que a causa da retinopatia e das alterações oculares é o próprio diabetes e esses sinais podem ser um alerta para o risco de a doença afetar outros órgãos. O diabetes é uma das principais causas insuficiência renal e cerca 10 a 20% das pessoas com diabetes morrem com falência renal.
Assim, percebe-se a importância do exame preventivo da retina com o OFTALMOLOGISTA em todas as pessoas portadoras de diabetes. Para casos com bom controle da glicemia, pouco tempo de doença e sem acometimento ocular, uma avaliação anual é suficiente. No entanto, em casos que apresentam maior risco para a retinopatia, essas avaliações devem ser mais próximas. Lembramos que o tratamento depende da severidade da retinopatia e quando instituído precocemente, pode proporcionar um melhor controle da doença ocular e até sua regressão.
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