Por Rosângela Felippe, jornalista

Animais necessitam de proteção e cuidados por representarem, assim como os humanos, vidas criadas por Deus. Eles são seres que sentem dores, a angústia de um abandono, precisam de amor e sabem doar amor de forma incondicional.
Calcadas neste conceito, duas irmãs, Marcia e Elaine Calicchio, passaram a se dedicar assiduamente a resgatar animais desamparados lhes dando todos os atendimentos até que possam encontrar alguém que os adote. Assim, surgiu a AMA GUAXUPÉ (Associação Amigos dos Animais), instituição voltada unicamente ao amparo aos animais de rua que tem contado com a colaboração de alguns poucos moradores da cidade.
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A casa dos avós paternos, local com um vasto terreno, sempre havia vários animais, tais como: cachorros, tartarugas, papagaios, coelhos, cavalo, entre outros. Todos os membros da família sempre amaram muitos esses animais e até hoje criam cada qual seus cachorros.
Com o casamento do pai, o saudoso Bisão, Maria Lucinda, a mãe de Marcia e Elaine que não era acostumada a conviver com bichinhos, não permitia que as filhas tivessem algum. E elas queriam muito um cachorrinho e, após muita insistência, foi-lhes permitido que adquirissem um de raça pura. Até então, as meninas não avaliavam o que era o sofrimento de um cachorro abandonado. Até que, em 2003, encontraram Moleka, uma cachorrinha abandonada e doente que recolheram, cuidaram e adotaram. E após 17 anos, Moleka ainda vive sendo muito amada por toda a família e inspirando o trabalho de Marcia e Elaine no amparo aos animais que sofrem pelas ruas de Guaxupé. E a mãe é hoje uma das maiores colaboradoras das filhas nesta nobre causa.

Essa linda história, que está sendo escrita com sacrifício pelas socorristas, hoje é tema desta coluna. Marcia Calicchio nos narra mais detalhadamente a importância de se dar mais atenção ao sofrimento de seres inocentes que nada mais pedem aos seres humanos além de amor... puramente amor. E em troca só nos dão amor... puramente o amor.
QUANDO DEU INÍCIO AS ATIVIDADES DE VOCÊS COMO PROTETORAS DE ANIMAIS?
Em 2003, apareceu uma cachorrinha muito debilitada e cheia de carrapatos no trabalho da Elaine. Nós a levamos ao veterinário para que tomasse banho e passasse por uma consulta. Em seguida, ela permaneceu na clínica para que fosse adotada. Mas ao chegar finais de semana, a clínica fechava e ela continuava lá. Foi quando decidimos trazê-la para casa onde permanece até hoje. E foi ela que nos despertou para as necessidades dos animais abandonados. O nome dela é Moleka e já está com 17 anos de idade.
ESTE FOI O PRIMEIRO TRABALHO DE VOCÊS NESTE SEGMENTO?
Não. Nós já fazíamos trabalho voluntário em outra associação. Só que, com o tempo, sentimos necessidade de trabalharmos com novas ideias como, por exemplo: Nós mantemos o animal abandonado em lar temporário até que ele seja adotado. Isso porque, para que ele não tenha a sensação de um segundo abandono. Fazemos a vermifugação, vacinação, castração e medicamentos para prevenção de carrapatos. Enfim, entregamos o animal para adoção totalmente pronto.

SEGUNDO ESTATÍSTICAS, HÁ NO BRASIL MILHÕES DE ANIMAIS ABANDONADOS. COMO PODERIA SE EVITAR OU PELO MENOS AMENIZAR ESSA TRISTE SITUAÇÃO? A RUA É CRUEL PARA OS BICHINHO, MUITOS ATÉ TIVERAM UM LAR UM DIA E ACREDITARAM QUE ERAM AMADOS. PORÉM, DE UM MOMENTO PARA O OUTROS FORAM JOGADOS FORA FICANDO A MERCÊ DA FOME, DO FRIO, DOS ATROPELAMENTOS, DOS ESPANCAMENTOS E ATÉ DOS ENVENENAMENTOS.
Isso vale muito a pena ressaltar. Observamos que, as pessoas em geral não procuram fazer cada qual a sua parte. Sempre existe um meio de colaborar. Você, por exemplo Rosângela, que nem em Guaxupé mora, juntamente com o Ricardo Dias, estão nos ajudando por meio desta entrevista para que possamos explicar e propagar melhor nosso trabalho e ganharmos adeptos nos cuidados com os animais da cidade. Então, não existe quem não possa ajudar a causa de alguma forma, nem que seja a doação de uma pequena peça de decoração para a Feira da Pechincha, ou nos ajudar no recolhimento de prendas, entre outras atitudes. Porém, muitos nos encontram nas ruas, dão-nos um tapinha nas costas dizendo: “No que precisar de mim pode contar com minha ajuda”. Porém, na primeira vez em que solicitamos alguma coisa, a resposta é sempre a mesma: “Agora não posso”. Sempre há uma desculpa. A maioria acha que, só o fato de pegar um telefone e nos ligar pedindo resgate de algum animal, isso já é o suficiente como colaboração. Mas ligar é muito fácil. As pessoas precisam é colocar realmente a mão na massa. Notamos que há muita acomodação e, muitas vezes, estamos trabalhando e dizemos a quem nos ligou: “Podemos autorizar o atendimento do veterinário e depois acertamos com ele, mas você poderia levar o animal até à clínica? Ligaremos para lá e avisado que é com a nossa permissão”. Eis que as respostas são decepcionantes: “Estou com pressa. Não irei colocar o animal dentro do meu carro”. Portanto, muitas pessoas não querem mesmo fazer nada. Querem apenas o ‘venha a mim’.
VOCÊS RECEBEM APOIO DE ALGUM ÓRGÃO GOVERNAMENTAL PARA A MANUTENÇÃO DA AMA?
Não temos esse apoio. A nossa renda vem de doações de mensalistas que totaliza em torno de R$ 1.100,00 (um mil e cem reais) ao mês. A arrecadação é feita da seguinte forma: Mantemos cofres em pontos comerciais que tem rendido uma média de somente 13 a 20 reais cada um no decorrer de meses. Como arrecadamos muito pouco com os cofres, fazemos a ‘Feira da Pechincha’ a cada três ou quatro meses. Além da feira, temos os produtos da Ama como: chaveiros, postais, adesivos, travesseiros e mantas. Porém, são recursos também que não rendem o suficiente para todas as necessidades de socorro aos animais.
COMO SÃO FEITAS AS DOAÇÕES PARA A FEIRA DA PECHINHA E ONDE ELA É REALIZADA?
As feiras são realizadas na sede do Lions. Toda colaboração é sempre muito bem-vinda. Não é apenas dinheiro que nos ajuda a manter a AMA. Precisamos, muitas vezes, de um apoio moral, de um carinho, compreensão pela nossa luta e respeito. Tem uma pessoa na cidade que sempre que pode faz suas doações em dinheiro ou com ração. Várias vezes ela coloca junto às doações um cartãozinho com palavras carinhosas. Isso nos emociona muito e chegamos até a chorar quando lemos suas mensagens. Então, toda oferta é válida, inclusive o apoio psicológico nos momentos em que nos sentimos desanimadas uma vez que, a luta que enfrentamos não é nada fácil. Ouvir de alguém que nos fala com amor: “Não se desanimem. Esse momento difícil vai passar”. Isso para nós é muito valoroso e nos fortalece para continuarmos.
EXPLIQUE COMO É O ESQUEMA DOS COFRINHOS PARA ARRECADAÇÕES.
São cofres no verdadeiro sentido da palavra. Estamos sempre divulgando em nossa página do facebook os locais onde eles se encontram expostos para que as pessoas possam colaborar com o que puder. Eles ficam em estabelecimentos comerciais de forma bem visível.
E COMO ATUAM OS MENSALISTAS?
O que chamamos de mensalistas são aqueles que entram em contato conosco dizendo que naquele mês poderão doar uma determinada quantia em dinheiro e marcam horário para que possamos recolher a doação em suas casas ou estabelecimentos de trabalho.
QUAIS OUTRAS DIFICULDADES QUE VOCÊS ENFRENTAM?
Na verdade, as dificuldades são inúmeras. Além do pouco dinheiro, falta tempo, voluntários e um local para abrigar os animais em recuperação para adoções.
ENFATIZE, ENTÃO, O ÍTEM PRIMORDIAL ENTRE AS DIFICULDADES DESTE TRABALHO.
O pior de tudo é a falta do local para abrigar os bichinhos até a adoção. Isso porque, quanto ao dinheiro, ao recolhermos um animal, deixamos as dívidas de atendimentos veterinários marcadas e, mesmo muitas vezes com atraso, nunca deixamos de pagá-las corretamente. Porém, o fato de não termos o local é o que torna nosso trabalho mais dificultoso. Isso porque, mesmo arranjando meios de atender o animal, nem sempre temos onde alojá-lo para que ele se recupere para ser adotado. Estamos constantemente apreensivas com essa questão.
O QUE DE PIOR VOCÊS TÊM OBSERVADO NESTA AÇÃO DE RESGATE?
Por tudo o que nós temos visto diante desse nosso trabalho, percebemos que o ser humano passou de todos os limites. Muitas pessoas demonstram terem perdido totalmente a sensibilidade e até a educação. Há aquelas que não dão a menor importância à causa animal e não se mobilizam, de modo algum, quando se deparam com um animal na rua precisando de socorro. Apenas passam e olham com certo descaso permitindo que o animal permaneça jogado no chão em sofrimento.

HÁ SUSPEITAS DE QUE, ALÉM DE MORADORES DA PRÓPRIA CIDADE, HÁ PESSOAS DE MUNICÍPIOS VIZINHOS QUE SE DESLOCAM ATÉ GUAXUPÉ PARA ABANDONAR SEUS ANIMAIS PARA QUE ELES NÃO ENCONTREM MAIS O CAMINHO DE SUAS CASAS. ISSO PROCEDE? Existem sim comentários a esse respeito, porém, ainda não há provas. A suspeita acontece diante da quantidade absurda de animais que aparecem diariamente abandonados em pontos estratégicos da cidade, tais como: bairro Ouro Verde (próximo ao anel viário) e ao bairro Bela Vista (próximo a BR 491). E o fato vem ocorrendo com muita frequência. COMO VOCÊS AVALIAM AS LEIS ATUAIS DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS? As leis existem e estão melhorando a cada dia. A quantidade de protetores vem aumentando consideravelmente e eles lutam muito para fazer valer essas leis. Temos, também, muitos deputados engajados na causa animal. Porém, infelizmente, quando é feito um B.O., nunca resulta em nada, ou seja, a lei não é cumprida. Então, aqueles que praticam os maltratos contra os bichinhos indefesos, sabem que nunca irão ser punidos. Isso acaba levando as pessoas que precisam fazer um boletim de ocorrência a desistirem da ação, pois, sabem que irão perder muito tempo na delegacia, poderão se indispor com vizinhos e conhecidos, e não verão nenhum resultado favorável aos animais agredidos. Portanto, é necessário que realmente a lei seja seguida à risca. Porque, a partir do momento em que as pessoas acusadas começarem a pagar pelos maltratos, outros já irão pensar melhor antes de cometer uma maldade contra os animais. Sim, as leis têm que ser melhor aplicadas. CITE ALGUNS DOS CASOS DE RESGATE QUE TENHAM LHES CAUSADO GRANDE COMOÇÃO. Há um episódio ocorrido com uma cachorrinha há quase quatro anos. Ela não tinha nem dois meses e foi encontrada nas Chácaras Bom Jardim, debaixo de chuva, com a boca cheia de formigas e com uma tábua e uma pedra em cima. Foi resgatada e levada ao veterinário. Mas, como era ainda filhote, o veterinário acreditava que ela não fosse sobreviver. Porém, foi feito tudo o que era necessário, mesmo ela já estando em estado de coma, uma vez que, nós sempre tentamos até o último minuto de vida do animal. Assim, ela permaneceu internada. Até que, para a surpresa de todos, uma semana depois, ela já estava levantando a cabecinha, foi melhorando a cada dia e, hoje, ela está com quase quatro anos. Ficou uma sequela sim, pois ela anda muito em círculos. Mas, conhece bem as pessoas, sabe onde é o lugar de fazer suas necessidades, atende aos chamados e, está sob a guarda da associação até hoje. Foi um caso que nos fez sofrer muito, uma vez que o estado em que foi encontrada nos chocou demais. Houve, também, outro caso terrível que ocorreu no ano passado. Uma cachorra foi enterrada viva perto do matadouro com apenas um pedaço da cabeça para fora da terra. Foi encontrada por funcionários da prefeitura que a desenterraram e a levaram à uma veterinária. Infelizmente, como se tratava de um caso gravíssimo, ela não sobreviveu. Foi crueldade demais enterrar um animal vivo. Isso para nós foi demais! COM TUDO O QUE FAZEM PARA SALVAR VIDAS DE ANIMAIS, VOCÊS SOFREM ALGUM TIPO DE BOOLING? Eu não diria exatamente booling. Mas, as críticas são muitas, por exemplo: somos chamadas de loucas; somos criticadas com termos pesados porque cuidamos de animais e não de seres humanos. Enfim, há pessoas que realmente não respeitam a nossa opção. No mundo, há pessoas que cuidam de crianças, outras de idosos e algumas são engajadas com o meio ambiente. Porém, os que se dedicam aos cuidados com os animais costumam ser largamente criticadas por indivíduos que realmente não aceitam que cuidemos deles. HÁ RESPALDO POR PARTE DOS VETERINÁRIOS NESTA AÇÃO DA AMA? Nós temos sim veterinários credenciados e o pessoal que faz os raios x, ultrassom, além dos pets também credenciados. Portanto, os veterinários nos apoiam totalmente em todas as ações além de nos dar um bom desconto nas consultas. Porém, acontece que muitas pessoas acham que os veterinários trabalham de graça para a associação e que basta pedirmos atendimento. Se assim for, como é que eles irão sobreviver? Com isso, há pessoas que sabem de animais que precisam de ajuda e não são se propõem a socorrê-los porque acreditam que basta ligar para nós que a associação se encarrega de tudo. Julgam, também, que temos dinheiro suficiente e não entendem que se trata de um trabalho voluntário e que, portanto, não somos remuneradas para cuidar dos animais. Dizem, inclusive, que temos a obrigação de prestar socorro em todos os casos, a qualquer horário, quando, na verdade, somos apenas voluntários, vivemos com uma quantia irrisória por mês e pagamos por todo e qualquer atendimento, pois, ninguém trabalha de graça. UMA VEZ QUE OS VETERINÁRIOS FAZEM DESCONTOS NAS CONSULTAS PARA AJUDAR A CAUSA, VOCÊS CONSEGUEM TAMBÉM DESCONTOS NO VALOR DOS MEDICAMENTOS? Não. Em medicamentos não conseguimos porque isso se torna muito complicado aos veterinários. Mas quanto à prestação de serviços como consultas, exames de imagens e de laboratórios, sempre contamos com os descontos. HÁ PEDIDOS DE AJUDA À ASSOCIAÇÃO POR PARTE DE DONOS DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO? Sim. Uma grande quantidade de pessoas nos pede para atender seus próprios animais de estimação, sendo que, a associação é voltada somente para ajudar animais abandonados. A partir do momento em que o animal tem um tutor, ele é o total responsável pelo animal. Mas, recebemos muitas reclamações de pessoas que não querem compreender a situação. Só fazemos despesas de um animal que tem tutor quando sua condição financeira é, de fato, muito precária, chegando ao estado de pobreza. O ÍNDICE DE MORTANDADE DE ANIMAIS EM GUAXUPÉ CAUSADA POR ENVENENAMENTO ALCANÇOU GRANDES PROPORÇÕES. QUAL A RAZÃO DE TANTA MALDADE? É como eu disse acima, o ser humano passou de todos os limites da maldade. Nós, como protetoras, não conseguimos entender o que se passa pela cabeça de uma pessoa que pratica uma ação como essa. Normalmente, a quantidade de gatos envenenados é bem maior do que de cachorros. Isso porque, o gato é um animal que não se consegue impedir que saia de casa, pois, ele sobe no telhado, percorre os quintais vizinhos, sai pelas ruas e há pessoas que se sentem incomodadas considerando mais fácil matar o bichinho como se estivesse resolvendo um grande problema. Não entendemos mesmo o que pode existir dentro do coração de uma pessoa que mata sem dó um ser tão inocente. Ao mesmo tempo, reconhecemos que há seres humanos que não respeitam nem seus semelhantes. Portanto, como é que irão respeitar o direito de viver de um animal? Para maiores informações e doações à instituição: 9 8846-4938.
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