A fonoaudióloga guaxupeana MICHELLY BASSO proferiu palestra sobre o funcionamento neurodivergente do autista, a importância de validar códigos de comunicação e de presumir competências

Segundo o Centers for Disease Control and Prevention, o Centro de Controle de Doença dos Estados Unidos, uma a cada 36 crianças no mundo pode ter o TEA que pode ser identificado ainda nos primeiros anos de vida e, com diagnóstico precoce, há maiores possibilidades de intervenção.
Conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria, o TEA é um transtorno de desenvolvimento neurológico caracterizado pela dificuldade de comunicação e/ou interação social, a manifestação de interesses restritos e de comportamentos repetitivos. Outras características estão frequentemente associadas como o Transtorno do Processamento Sensorial (hipersensibilidade ou hiposensibilidade sensorial) e atrasos no desenvolvimento motor e/ou dificuldades persistentes nas habilidades motoras.
O autismo é classificado em níveis de acordo com a necessidade de suporte, ou seja, ele pode se manifestar de forma a demandar pouca necessidade de suporte, com maior autonomia (nível 1), média necessidade de suporte, com autonomia relativa (nível 2) e alta necessidade de suporte, com menor autonomia (nível 3). O diagnóstico do TEA é clínico, ou seja, não há um único exame ou teste que determine o diagnóstico que deve dado pelo médico neurologista, psiquiatra ou foniatra, embasado sempre em avaliações realizadas por uma equipe multidisciplinar.
A fonoaudióloga Michelly Silveira Basso, que é guaxupeana mas reside em Piracicaba, é especializada em neurodesenvolvimento infantil e passou a estudar especificamente o TEA em 2012, quando conheceu a abordagem da “Inspirados pelo Autismo”. Ela foi convidada pela educadora e vereadora Maria José Cyrino e um grupo de mães para dar orientações e esclarecimentos sobre questões relacionadas ao autismo. O encontro aconteceu no Teatro Municipal “Arlete Souza Mendes”. O tema escolhido foi “Autismo, um espectro de possibilidades”.
Em entrevista à MÍDIA, Michelly explica que em 2012, quando iniciou suas especializações e pesquisas sobre o Transtorno do Espectro Autista, já era mãe de Maria Fernanda, mas sequer imaginava que poderia um dia fazer parte do universo da maternidade atípica. “Em 2013, meu filho Davi nasceu e, logo no primeiro ano, passou a apresentar algumas discretas manifestações do TEA. Nessa fase, mesmo estudando o tema, tive dificuldades em validar minhas percepções. Eu sabia que ele era um bebê diferente dos bebês típicos com os quais eu convivia. Pouco antes dele completar uma ano, tive certeza de que ele tinha um desenvolvimento atípico e que, provavelmente, pudesse ser autista”, contou.
Na época, ela atendia como fonoaudióloga na clínica do esposo, que é médico. Mas, diante das demandas do filho, optou por encerrar os atendimentos no consultório e mergulhar profundamente no estudo e na investigação sobre o TEA.
“Foram 2 anos sem trabalhar, com dedicação intensa aos estudos sobre o tema. Diversos cursos, congressos, formações, workshops e supervisões. As formações ainda continuam e, atualmente, faço pós-graduação em neurociências. Assim, comecei a entender o que se passava com meu filho e continuei buscando os melhores recursos para ajudá-lo”. Ela conta que nesses dois anos acompanhou Davi diariamente em todas as terapias e sempre exigiu estar com ele dentro de sala e, quando não permitiam, ela trocava de terapeuta. “Nessa fase longe do meu consultório passei a ter verdadeiro horror de salas de espera. Passei a sonhar com um espaço de atendesse não somente as demandas das crianças autistas, mas também, de seus cuidadores. Em 2014, inaugurei o Espaço Inspiração, em Piracicaba, junto com minha sócia Marilene Storoli. Nesse espaço dediquei-me não somente aos atendimentos das crianças, mas também ao acolhimento dos pais e cuidadores. Rapidamente a demanda cresceu e logo não tínhamos mais disponibilidade de horários”, explicou.
Assim, para multiplicar o conhecimento e alcançar mais pais e profissionais era preciso um novo formato. Nasceu, então, o Maná Mentoria, uma empresa que oferece supervisões de casos para profissionais, mentoria, consultoria e treinamento para escolas, instituições, hotéis, buffets infantis, igrejas e comércio em geral, além de capacitação, orientações e acolhimento às famílias.
Entre os principais temas abordados pela especialista na palestra em Guaxupé estavam explicações sobre o funcionamento neurodivergente do autista, a importância de validar códigos de comunicação e de presumir competências. “Quando nos referimos ao autismo, temos que lembrar de que se trata de um espectro de manifestações e peculiaridades e, portanto, há um espectro de possibilidades. Por isso é imprescindível que cada autista seja analisado como único e que seu tratamento seja, impreterivelmente, personalizado”, destacou Michelly Silveira Basso.
O TEA não é uma doença, não tem cura mas tem tratamento. O diagnóstico precoce permite o desenvolvimento de práticas para estimular a independência, a promoção de qualidade de vida e acessibilidade para essas crianças, adolescentes e adultos.
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